Como já por diversas vezes aqui referi, tivemos uma comissão intensamente ocupada em actividades operacionais, pois que parecia que toda a cadeia de comando estava fortemente empenhada em fazer uma rápida liquidação da missão que nos fora imposta. Ora tal desiderato era uma pretensão utópica e inalcançável, tanto quanto os factos futuros vieram comprovar. Mas a verdade era que tinham uma tão grande preocupação com o estado de saúde do pessoal, mas tinham umas reacções estranhas quando um médico diagnosticava um doente com “astenia” e “inapetência” e chegavam a perguntar: “Que é isto de“astenia”e “inapetência”?! Até quase que acusavam os médicos de cumplicidade para o “desenfianço” do pessoal ao trabalho operacional. Chegavam até a proibir jogos de futebol, para que não houvessem lesões traumáticas originadas nessas partidas desportivas que dessem cobertura a fugas à actividade operacional. Havia um que até dizia que não deviam beber refrigerantes gasosos, pois que eles só davam origem à produção de “gases”!.Cervejas, também, nem vê-las, pois embriagavam e viciavam quem as consumia. Vinho, podia beber-se com moderação, mas apenas nas doses recomendadas pela “ração” diária, de dois decilitros por refeição e não mais que isso. Beber, só água, devidamente desinfectada, por causa das febres palúdicas !...Tudo tão sómente para não ficarem inoperacionais e poderem dar o máximo das suas possibilidades, sem descanço ou até caírem para o lado, de exaustão e “astenia”!...Valeu de muito, tanto empenho e sacrifício?!..
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Por do Sol sobre a floresta |
A História seguiu o seu curso natural, tal qual um rio que foi represado e desviado do seu caminho e que, um dia, saltou das represas e fugiu ao caminho que lhe tinham imposto saindo, por fim, liberto dos limites que lhe tinham, artificialmente, traçado!... De qualquer maneira e, pelo menos, pela minha parte, apesar dos contratempos que me causou tal aventura no coração da África tropical, não dou por mal empregados os anos que lá passei e que não foram dois ou quatro, mas seis, com mais alguns meses em cima!...No Capítulo anterior falei de algumas “mascotes” que eram os nossos cães. Neste episódio, estou a lembrar-me de um camarada nosso que, não sei como, pois a memória me falha neste caso, arranjou uma “mascote” muito especial que era, nem mais nem menos que uma leitoa. Dentro do aquartelamento, seguia-o para onde quer que ele fosse, como se de um cachorrinho se tratasse. Tinha-lhe dado o nome de “Zeferina” e o facto é que o animal atendia quando o chamavam pelo nome . Tinha a sua cama, que era um caixote, onde dormia muito enrolada num pedaço velho de cobertor, encontrado no trapo de limpar o armamento. Só não me recordo do fim que lhe foi dado quando chegou a hora do regresso a casa, no fim da missão. Não sei se acabou transformada em “leitão à Bairrada”ou se foi deixada a algum dos camaradas que nos vieram render ao Liberato em 1967. Do camarada em questão não cito o nome, uma vez que resolvi não mencionar o nome de seja quem for ligado a qualquer história que relate relacionada com factos ocorridos com pessoas que, comigo, prestaram serviço na CArt 785. E, já que estamos em maré de histórias, estou a recordar-me de uma ocorrência passada com uma das nossas Praças. E, em poucas palavras, contarei a história tal qual como ela aconteceu: Foi um certo soldado nomeado para serviço de sentinela nocturna num posto que ficava perto da cozinha do Rancho Geral, que tinha dia e noite o fogo aceso em permanência. O jantar devia ter sido fraco para ele e, durante a noite e fora da sua hora de posto, fez uma incursão a uma capoeira dos nativos contratados da fazenda, tendo capturado um galináceo escanzelado, só com penas e ossos. Quando a ronda passou pelos postos, notou que o soldado em questão estava acocorado junto à lareira, ocupado a fazer um “churrasco” com a sua presa e, imagine-se!...Ele tinha esquartejado o animal, sem o depenar, e estava a assá-lo nas brasas!...É claro que não cheirava a frango assado, mas a penas chamuscadas, que é um pivete bem desagradável.
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E já tinha comido metade do frango cozinhado com aquela maestria, o que levava a crer que devia estar esfomeado para conseguir tragar tal petisco, culinariamente, tão pouco atractivo e até repelente. Enfim!...Contingências da guerra!...Mas parece-me que a necessidade de comida não deveria ser assim tão grande para cometer uma proeza que nem os cafreais fariam, pois estes sabiam e muito bem tratar e temperar devidamente os seus churrascos!...Por agora vou encerrar este “post”, enviando saudações cordiais a quem se dispuser a lê-lo. No próximo Capítulo contarei outras histórias. Até lá!...
Octávio Botelho