A minha Guerra em Angola iniciou-se, efectivamente, a partir de meados de 1965. Mas já um pouco antes, no ano de 1964, começaram a sentir-se os seus efeitos psicológicos que se iniciavam com saber-se que estávamos nomeados e mobilizados para as ex-colónias. Assim, poderei dizer, sem faltar à verdade que, na realidade, os efeitos nefastos daquela guerra começaram antes de ter entrado nela de facto.
Companhia de Artilharia 785 |
Iniciando, então, com a narração da minha odisseia africana, situo o seu começo por alturas do último trimestre de 1964. Neste ano, fora promovido, vindo do SMO, ao posto de Furriel do QP de Artilharia, sendo colocado na minha Unidade de origem, a BAG nº.1, sedeada em Ponta Delgada, São Miguel, Açores. Estava já casado desde 1962(casei-me com 25 anos, pois as Leis Militares da época, não permitiam o casamento antes daquela idade) e quando ocorreu a minha mobilização para Angola já tinha uma filhota, que se tornou única e que tinha um pouco mais de um ano de vida. Prosseguindo a narração, como disse acima, pelos fins de 1964 e como directa consequência da minha promoção a Furriel e acesso ao QP, fui mobilizado para Angola, por imposição, integrado numa Unidade de reforço à guarnição normal da RMA, sob a designação de CArt 785/BArt 786-RAP-2, actualmente designado por RASP, com sede em Vila Nova de Gaia. Em consequência de tudo isto, é-me conferida, por alturas de Novembro/64, Guia de Marcha para o RAP-2, utilizando como transporte de Ponta Delgada para Lisboa, o decrépito N/M”Carvalho Araújo”, da Empresa Insulana de Navegação, que fora capturado aos alemães na II Guerra Mundial e que era um autêntico museu de antiguidades e rangia por todas as juntas à mais pequena ondulação. Depois de 4 dias de viagem, com uma breve paragem no Funchal, cheguei a Lisboa, desembarcando no Cais da Rocha, partindo dali para o DGA, na Ajuda. Ali é-me fornecida RT para a via férrea, no comboio para o Norte, das 23H55. Para uma viagem inaugural neste meio de transporte, devo dizer que foi uma autêntica desilusão!...: Composição puxada por locomotiva a vapor, estofos dos assentos em “sumapau”, sem aquecimento e uma carruagem atafulhada de gente, sobrepostos quase como sardinha salgada. Iniciada a marcha, parecia que tinham posto na carruagem rodas oitavadas e, dada a curteza dos carris, parecia estarmos no meio de uma cavalgada, pois só se ouvia e sentia um contínuo “catrapuz!...catrapuz!...catrapuz!”…Dormir?! Nem pensar!..., pelo menos eu, pois que os meus companheiros, apesar de tudo, dormiam como anjos em cama de nuvens!...
Continuarei a descrever a minha saga em próximo Capítulo!...
Saudações para todos aqueles que me lerem e até breve!...
Octávio Botelho