Como já disse anteriormente, a ida para Santa Isabel da CArt. 785, foi o melhor que nos poderia ter acontecido. Como também já disse, melhorámos enormemente no aspecto de alojamento e, como não poderíamos ter tudo bom, sucedia que no aspecto estratégico e táctico, Santa Isabel deixava muito a desejar. A área sede da Fazenda estava situada numa ligeira depressão, com as plantações de cafeeiros cercando tudo em volta, praticamente em cima das instalações fabris e de moradia e, portanto com uma visibilidade muito reduzida para o caso de haver um ataque às citadas instalações, só se dando fé de tal invasão, se acontecesse, mesmo em cima do acontecimento. Estava, assim, completamente afastada a hipótese de qualquer detecção prévia que permitisse organizar a auto-defesa. Felizmente que nunca aconteceu, pelo menos enquanto lá estiveram as duas CArts, a 784, em primeiro lugar e depois a nossa CArt 785”Os Cágados”, nenhuma visita do então chamado IN. A verdade era a que diz um ditado muito antigo e, como sempre, muito sábio: “O medo vigia a vinha e não o vinhateiro”!...O que quero dizer com isto é que, só pelo simples facto de existirem tropas aquarteladas numa Fazenda, era um forte óbice a que se aventurassem a, com intenções malévolas, caírem em tal aventura em que lhes sairia o “tiro pela culatra” e levariam para contar!...
Estávamos, assim um tanto ou quanto descontraídos, mas não ao ponto de nos relaxarmos na necessária segurança nocturna que era rigorosamente mantida, como era do Regulamento e da praxe. O clima, nada diferia do de Liberato, uma vez que Santa Isabel ficava a Leste daquele, a uma distância em linha recta de cerca de catorze quilómetros e, visto isto, é perfeitamente comprovada a afirmação que faço. A vida operacional mantinha-se sempre em força e actividade e sobre isto pouco mais há a dizer, que seja diferente da habitual rotina. Agora deu-me para recordar uma altura em que estávamos muito próximo da época natalícia, que como qualquer outra tradicional festividade nos deixava com grandes saudades dos familiares e do ambiente familiar, mas a verdade é que nesta eram mais acentuadas e sentidas. Tínhamos recebido do MNF as tradicionais lembranças de Natal e que constavam essencialmente de cigarros, isqueiros, e pacotes de livros(nunca me esquecem os “Livros RTP) editados nos anos 60, de que recebemos embalagens de doze livros cartonados, com títulos de autores portugueses, tais como Júlio Dinis, A.Herculano, A.Garrett, e outros. Na véspera de Natal, a CCS, que tinha preparado um Auto de Natal, muito simples, sob a direcção do capelão, Pe. Victor Filipe, enviou um grupo que veio presentear-nos com uma exibição do seu trabalho, baseado na narração evangélica do nascimento de Jesus que, pela sua simplicidade, veio amenizar e dar mais um pouco de calor à vivência das Festas Natalícias e, sob a direcção de um dos nossos alferes, foi improvisado o canto de algumas canções natalícias tradicionais.
Foi bom, pois conseguiu-se, pelo ,menos naquela noite, afastar um pouco o ambiente guerreiro, transformando-se aqueles momentos em oásis de paz e harmonia fraterna, que deveriam ser o quotidiano e não a excepção de uma noite ou de um dia, como era no caso presente. Infelizmente a paz e amor foram naqueles tempos uma flor com uma vida muito efémera, pois que durava apenas uma noite ou um dia e, no dia seguinte, já estava morta e enterrada, como se nunca tivesse existido. Mas, que se poderia fazer?!...Eram as circunstâncias que assim o determinavam e nada havia a fazer. Estou a achar que já me excedi um pouco no meu “post” e acho melhor, por agora, terminá-lo. Tentei fugir um pouco à rotina da matéria e espero que não tenha feito pior que nos anteriores trabalhos. Se, por acaso vos decepcionei, peço-lhes que me desculpem e no próximo tentarei fazer melhor. Cordiais saudações a quem se der à paciência de me aturar e cá estarei em breve, com o próximo “post”, para continuar. Até lá!...
Octávio Botelho