Continuando na senda que me propus seguir, avanço com a narração de outra operação levada a efeito nos já longínquos e afastados anos 60 do século passado. E de que outro assunto deveria falar, se outro assunto não há para tratar na realidade? Essas acções eram realizadas em função de informações com diversas origens e que aos Comandos chegavam com bastante frequência, quer como resultado de observações directas feitas pela FAP e por informações dadas por elementos apresentados vindos da mata, onde faziam trabalho agrícola forçado nas lavras, dando apoio logístico ao IN. Assim, sabia-se existirem inúmeros refúgios que tinham anexadas lavras que proporcionavam meios de subsistência que lhes eram indispensáveis para a sua manutenção. A área em questão era localizada no vale do Rio Vamba e, em actuações nossas, feitas anteriormente naquela zona, tinham ocorrido reacções com fogos de “flagelação” e emboscadas, à nossa entrada. A missão e finalidade da operação era capturar elementos e no mínimo, destruir-lhes os locais de refúgio e os meios de subsistência. Compunham os efectivos desta operação oito AGR/C, que integravam um total de 27 GC. Um destes AGR/C pertencia à CArt 785 e tinha um efectivo de 3 GC, o que significava uma saída máxima de pessoal operacional de uma Unidade do tipo Companhia.
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Por-do-sol, sobre a floresta |
A acção iniciou-se a 2SET, tendo o AGR saído do Liberato a meio da tarde, indo pernoitar na Fazenda Poço. No dia imediato, ao iniciar-se a progressão, foi ouvido um estardalhaço, como de ramagens a serem partidas, dando a impressão de alguém a fugir precipitadamente. O atirador da “Madsen” reagiu abrindo fogo, dando cobertura para a entrada do primeiro GC no objectivo. Não houve qualquer reacção por parte dos fugitivos, tendo sido encontrados diversos utensílios domésticos e mobílias destruídas, dispersos pelo chão. Como a missão estivesse já concluída, o AGR prosseguiu, subindo a serra Ambuíla onde pernoitou. No dia seguinte procedeu a “batidas” ao longo do Rio Vamba, sem que tivesse tido qualquer contacto com o IN. Ao iniciar o novo dia, foi encontrada uma lavra abandonada, com umas cubatas antigas, mas com vestígios de terem sido recentemente utilizadas. Ao fim da tarde e depois de ter atravessado um rio, o AGR subiu a um morro, onde montou acampamento para pernoitar. Na manhã do dia seguinte, pouco depois de iniciar a progressão, foi encontrada uma lavra trabalhada, com um conjunto de cubatas, tendo tudo sido destruído. Perto do fim do dia foi encontrado um outro grupo de cubatas que tiveram o mesmo fim.
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Batuque na sanzala, em Angola |
No dia subsequente, foi o AGR forçado a acampar, por motivo da ocorrência de uma forte trovoada, que impediu as comunicações via rádio. No dia imediato, o AGR subiu à serra Ambuíla onde encontrou uma cubata nova que destruiu e cerca do meio-dia foi sobrevoado pelo PCA, que lhe indicou o rumo para a Fazenda Poço, não tendo conseguido atingi-la, o que só sucedeu no dia seguinte, sendo dali auto-transportado para o Liberato, no dia 9SET. Todo este percurso foi executado em sete dias, num trajecto, no geral, bastante montanhoso e de difícil acesso. Por hoje vou terminar, esperando que o tema não tenha sido demasiado maçador e ao mesmo tempo enviando cordiais saudações a todos quantos tenham lido este “post”, despedindo-me até ao próximo capítulo. Até lá!...
Octávio Botelho