Não!... Não se trata da localidade, nem do rio com o mesmo nome, situados, como já referi várias vezes, na província do Uíge, na República de Angola. Na verdade, trata-se dos nomes de um casal de cães, irmãos e que, pelos nossos militares, foram adquiridos no Quitexe, após desmamados da sua mãe, uma cadela “pastor alemão” civil, pertença de um residente local, sendo o pai um garboso cão de guerra, que prestava serviço numa “Secção de Cães de Guerra”, adida ao nosso Batalhão. Foram trazidos para o Liberato, logo após a nossa chegada e foram logo adoptados pela maioria dos militares, que os cumulavam de muito mimo e os tratavam principescamente. Assim foram criados sem dono, mas com muitos donos e assim, qualquer militar que os chamasse pelo nome, corriam logo os dois para a brincadeira ou para receberem um petisco qualquer.
"Quitexe"e "Calambinga" |
.Criaram-se e desenvolveram-se e, quando fomos transferidos para Santa Isabel, levámo-los connosco. Eram os dois muito afeiçoados a qualquer militar, mas a dois em especial, que eram o cozinheiro e o faxina da messe de sargentos, que deixavam comida e carnes em cima das bancadas, mandando à “Calambinga”que os guardasse e saíam fora para verem no que davam as modas. Verificaram que, logo que qualquer pessoa estranha tentasse entrar no local, ela a impedia de entrar rosnando furiosamente, afastando assim os intrusos das coisas confiadas à sua guarda. Até mesmo o Gerente da Fazenda que, pretendendo reduzir caminho para o 1º.andar da residência tentou atravessar pelo local, que era no rés-do-chão, ao tentar entrar na porta, ela saiu disparada de lá de dentro e, pondo-se em pé, colocou-lhe as patas anteriores sobre os ombros, derrubando-o para o chão, onde ficou deitado de costas com a cadela por cima a rosnar-lhe junto à cara. O homem ficou a detestá-la por causa disso!... Qualquer estranho que viesse, mesmo que fosse militar e ela o visse avançar, arrancava como um raio para o estranho, pondo-se em pé a rosnar em frente à cara da pessoa.
A cadela Dachshund, "A Baixota" |
.Tinha que se chamá-la para ela deixar em paz a pessoa em causa. Mas não passava disso, nunca tendo mordido nenhum estranho que lá entrasse. Estou a lembrar-me de uma ocorrência com ela e com uma nativa bailunda, mulher de um contratado da fazenda, que era a lavadeira do cozinheiro da messe. A mulher parece ter extraviado qualquer peça de vestuário do militar e ele esperou que ela voltasse do trabalho, para lhe perguntar o que sucedera com a peça em falta. A “Calambinga”, muito atenta a todos os passos do “dono” deitou-se sobre a bancada de cimento que rodeava o edifício e vendo que a nativa ao ser interrogada, começara a falar alto e a gesticular para o seu"dono", dispara em direcção a ela e, abocanhando-lhe o panal que lhe servia de vestido e que era apertado sobre os seios, deu-lhe um valente puxão, arrancou-o e ficando encapuchada, começou a ladrar e a sacudir furiosamente o pano, correndo às cegas pelo terreiro!...A nativa ao ver-se despida no meio da rua e vendo a fúria da cadela, agarrou-se ao soldado e gritou: “ Ai ué, minino!...Não deixa que o cadela mi mata!...Eu vou buscá já o teu roupa e não quero mais lavá!...Tenho medo do cadela mau!” O soldado ria que se partia e dizia-lhe: “Não !...Continuas a lavar-me a minha roupa!...A cadela não te mata que eu não deixo!...
Só quero que me tragas a peça de roupa em falta!”… Em seguida ele deteve a cadela, tirou-lhe o pano da boca e deu-o à nativa que, imediatamente, se envolveu nele e foi para casa em grande velocidade. A cadela também não gostava de ver fosse quem fosse a discutir, pois começava a ladrar enquanto não parassem e se uma das pessoas a chamasse pelo nome em tom aflitivo, ela atirava-se à pessoa que achava que estava a ameaçar a pessoa que a chamasse!...Era uma folia constante!...Enquanto estivemos em Santa Isabel, a “Calambinga” engravidou e a seu tempo, presenteou-nos com uma ninhada de doze cachorros, mas a maioria eram muito fracos e morreram, só tendo escapado três ou quatro que se desenvolveram e criaram normalmente, sendo já graúdos quando regressámos de novo ao Liberato. Como a cadela nunca saíu para o exterior e não havendo cão daquela raça, a não ser o “Quitexe” e as crias terem sido todas “pastor alemão” puras, desconfiámos que o pai dos cachorros foi o próprio “Quitexe”, o irmão da cadela . Deve ter sido por essa razão que a ninhada foi anormal e fraca, devido à consanguinidade dos pais!... Mas as mascotes não eram só estes!...Havia ainda um “leão da Rodésia”, chamado “Leão” e uma cadela “basset-hound”, a quem chamavam a “Baixota”, o que perfazia um total oito cães, sendo quatro adultos e as quatro crias que eram o entretenimento dos militares em geral!... Por agora vou terminar, pois este já está a ficar um bocado extenso. Cordiais saudações a quem se der à paciência de me ler e despeço-me até ao próximo Capítulo. Até lá!...
Octávio Botelho