Decorria mês de Março do ano de 1967. Encontrávamo-nos pela segunda vez na Fazenda Liberato, a cerca de uns três ou quatro meses da data prevista para o fim da nossa missão na ex-colónia de Angola. Mantinha-se no entanto em alta a actividade Operacional que, tal como do antecedente se vinha a verificar. Além dos serviços operacionais, havia, naturalmente, os movimentos relacionados com os reabastecimentos logísticos, essenciais para se poder prover a todas as necessidades vitais de uma Companhia em plenas funções. Assim, naquele dia, 28MAR67, fora nomeada uma escolta para se fazerem os necessários reabastecimentos, tendo essa escolta sido organizada com o pessoal disponível no aquartelamento para o efeito. Cerca das 09H00 e depois da 1ª.Refeição, partiu a coluna do Liberato com destino a Quitexe, composta por duas viaturas: um Unimog 411 e um camião Mercedes Benz e o efectivo de 1 Sec/Comb+(*). A cerca de meia viagem, perto da antiga e já abandonada sanzala do Cólua, numa zona com espessa vegetação marginando a picada numa extensão de cerca de cem a duzentos metros acontece o inédito e o imprevisto: Sobre a primeira viatura da coluna auto e com origem na parte posterior da máscara de vegetação existente no bordo da picada, irrompe um cerrado tiroteio de armas ligeiras, tipo pistola-metralhadora, num número provável de dois atiradores, que veio atingir três militares:
Família de elefantes invadindo a estrada, em África |
Um que seguia de pé, logo atrás da cabina, a que se apoiara, um outro, que seguia sentado num banco corrido e, quase em simultâneo, o condutor da “Mercedes”. O primeiro atingido, teve morte instantânea; o segundo foi atingido no rosto com um projéctil que lhe atravessou de lado a lado a cavidade bucal e o condutor foi atingido num joelho que ficou bastante danificado e com sequelas posteriores permanentes. E não houve mais atingidos, devido à pronta reacção do pessoal da escolta, que pôs os agressores em debandada. O morto foi enterrado no cemitério do Quitexe tendo, mais tarde, sido trasladado para a terra da sua naturalidade. O ferido na cara, foi plenamente recuperado, pois no seu azar, teve a sorte de não ter sofrido danos de maior na estrutura óssea dos maxilares. Quanto ao condutor, esse não recuperou tão bem dos ferimentos, e eu próprio o encontrei, há uns anos e passados que tinham sido uns trinta e três anos, ficou permanentemente marcado, pois ficou a coxear, uma vez que a sua recuperação não foi total!... Quanto ao militar falecido, vou aqui e agora revelar que se chamava António Teixeira Fernandes, do 1º.GC/CArt 785, natural de Braga, mais conhecido por “O Faia”, entre os seus camaradas. O Sold. Condutor, de nome José de Jesus Reis, hoje, Deficiente das Forças Armadas e quanto ao outro ferido, não consigo, por mais voltas que dê, relembrar o seu nome. Quanto ao António Teixeira Fernandes, deixo-lhe aqui as minhas homenagens, assim como a de todos os restantes camaradas elementos da CArt 785, garantindo-lhe que a sua memória perdurará enquanto existir o último dos seus camaradas. Um dia nos encontraremos de novo!...Até breve!...E eram estas as contingências a que se expunha um militar. Neste caso, estávamos no fim de uma missão se serviço, pedindo a Deus e a todos os Santos que nos afastassem dos contratempos e adversidades e acontecem, inopinadamente, ocorrências idênticas à que acabo de descrever e que, na verdade, se revelaram como um autêntico balde de água gelada !...Ocorrências inesperadas, sim, mas possíveis de acontecer, dadas as circunstâncias vigentes naquela época de incertezas. Vou terminar, por hoje, enviando cordiais saudações a todos quantos se derem à paciência de me ler. No próximo Capítulo, relatarei outras histórias. Até lá!...
N.R.(*)-Sec./Comb+ = Secção de Combate Reforçada.
N.R.(*)-Sec./Comb+ = Secção de Combate Reforçada.
Octávio Botelho