Como disse no término da 1ª.Parte destas Crónicas, embarquei em Luanda em 24JUL67, a bordo do paquete “Vera Cruz”, iniciando uma viagem que duraria nove dias e a partir dessa data estava logo incluído na escala para uma nova Comissão. Desembarquei em Lisboa no dia 3 de Agosto e, nesse mesmo dia apresentei-me no DGA, onde foi dada requisição de transporte e saída na Guia de Marcha para o RAP-2, Vila Nova de Gaia, hoje Regimento de Artilharia da Serra do Pilar. Ali fiquei a aguardar colocação e definição da minha situação militar, que só ficou resolvida em l3 de Agosto. Fiquei colocado no RAP.2 e em Diligência na BAG-l, em Ponta Delgada, enquanto estive com licença de desmobilização, que era de 20 dias(10 dias por cada ano de Comissão). Só em 15 de Agosto de 1967 é que consegui chegar à minha casa e junto da minha família num dia tão memorável. À minha espera, tinha uma festiva recepção que os meus familiares me tinham preparado. Iniciei a minha licença e, finda esta, entrei ao serviço na minha Unidade de origem, a BAG Nº.1, prestando serviço na Secção de Mobilização. Continuava colocado no RAP-2, em diligência na BAG-l, situação que dava direito a um abono suplementar no vencimento, de cerca de 20$00 diários. Findos os vinte dias de licença fui colocado efectivamente na minha Unidade, a BAG-l.
Desfile no Juramento de Bandeira, no GAC/NL, em 1968 |
Para não estar a maçar desnecessariamente, vou já dizendo que, depois de uma permanência de cerca de pouco mais de um ano e, aí pelo último trimestre de 1968, estava novamente nomeado para outra Comissão, novamente em Angola, desta vez não incluído numa Unidade do tipo Batalhão, como da primeira vez, mas em rendição individual, o que queria dizer que tinha sido indigitado para substituição de um militar de igual graduação que tinha sido abatido por motivo de evacuação por doença, ou falecido em acidente de viação ou quem sabe, em combate. Era um dos pormenores que nunca nos diziam sobre a causa do abatimento do militar que íamos substituir, nem tão pouco o seu nome, porque se o publicassem, havia maneiras de se saber o que lhe acontecera!...Assim, mais uma vez, uma viagem até Lisboa, de barco, mas já no paquete”Funchal”,em vez do velho “Carvalho Araújo”, as inevitáveis despedidas que tanto custavam e, passados 3 dias já estava em Lisboa, apresentando-me, desta vez no DGA, a aguardar embarque para Luanda, novamente no "Vera Cruz".
Vista da cidade de Nova Lisboa(Huambo) |
.Após os 9 dias de viagem, em vez de ir para o Grafanil, desta vez fui mandado apresentar no GACL, onde estive alguns dias a aguardar colocação. Por fim, foi-me conferida Guia de Marcha para o GACNL, uma Unidade da Garnição normal de Angola. Fui colocado no PCS, prestando serviço na Bataria de Mobilização, serviço com que estava familiarizado na minha Unidade de origem. Passei a fazer Guarda de Polícia à Porta d’Armas, a auxiliar do Gerente da Cantina das Praças e a ajudar na Escola para Crianças Indígenas, na distribuição de Lanches. Não sei explicar a razão da existência dessas aulas no Quartel, ,mas elas existiam, de facto. Depois haviam as incorporações de recrutas, os Juramentos de Bandeira, tudo fazendo lembrar a rotina das Unidades Metropolitanas e Insulares. Ali passei já o Natal de 1968 e, pouco depois, tive de ser internado no Hospital Central de Nova Lisboa, onde fui submetido a uma pequena cirurgia. Estavam já com idéias de me destacarem para uma das Batarias de Campanha destacada em Cuemba, Bié, que era um local que, naquela altura, não era para brincadeiras, pois ficava precisamente numa zona de grande atrito entre o MPLA e a UNITA e as NT, ficavam no meio dos dois Movimentos e carregavam pela medida grossa. Mas quem estava a pressionar para serem os sargentos novos os destacados, eram os veteranos da Unidade que eram sempre considerados mais antigos que os recém-chegados, por mais comissões que estes tivessem no lombo!...Eu, que já conhecia sobejamente o cenário da guerra, não estava a ficar muito contente com
Ceia de Natal de 1968, no GAC/NL |
o andamento das coisas e não tinha, francamente, saudades nenhumas de me ver em tais andanças. A propósito disto, estou a lembrar-me de uma ocorrência única que verifiquei enquanto permaneci no GACNL. Encontrava-se lá um Fur.Milº. a quem sucedia um raro fenómeno!...Bastava-lhe pegar numa ração de combate para ele ter uma reacção alérgica que lhe punha toda a pele do corpo vermelha e ficava com a cara e as mãos completamente inchadas e tinha que ser tratado com anti-histamínicos!...Em todos os meus seis anos de serviço em África, este foi um caso único de "alergia" às rações de combate que, de facto, verifiquei!...Por hoje, vou terminar,pois este "post" está a ficar um pouco longo. Cordiais saudações a quem se der à paciência de me ler e despeço-me até ao próximo Capítulo. Até lá!...
Octávio Botelho