Venho por este meio apresentar aos meus Camaradas das CArt 785/BArt 786, CArt2396/BArt 2849 e CArt 3514 os meus sinceros desejos de que tenham umas Boas-Festas de Natal, na companhia dos seus familiares e de que o Novo Ano que se aproxima seja repleto das maiores felicidades, muita saúde, paz e amor.
Com um abraço do Camarada e Amigo,
Octávio Botelho
Crónicas de Angola
segunda-feira, 16 de dezembro de 2019
sábado, 14 de janeiro de 2017
Rememorações
Com a devida vénia permito-me
hoje reproduzir neste blogue um articulado da autoria de um antigo Camarada
e Amigo, de seu nome Valentino Manuel Francisco Xavier Viegas que me fez refletir
e muito sobre a Guerra Colonial e as
suas consequências em muitos dos seus ex-combatentes. Fui e sou um militar
profissional fora do ativo, mas sempre fui uma pessoa pacífica e talvez a antítese de um “militar”, mas cumpri todos os
meus deveres nas funções e missões de que fui encarregado com, passe a
imodéstia, algum mérito. Mas estou a afastar-me do fim a que me propus e agora
peço-vos que apreciem o trabalho acima referido.
As reminiscências da guerra
Embora custe a acreditar e por mais incrível que isso hoje possa parecer, de facto, foi a guerra colonial que os uniu.
Há cerca de cinquenta anos, mais dispersos pelas vilas e aldeias nortenhas do que pelas cidades deste país mais ocidental da Europa, cada qual vivia virado para si próprio, desfrutando os doces anos da juventude e reflectindo sobre a melhor forma de realizar os seus sonhos mais prementes.
Obrigados a prestar o serviço militar, salvo raríssimas excepções de oferecimento voluntário, quando jovens haviam sido recrutados para garantir a presença portuguesa nas terras africanas e asiáticas, em nome de um Portugal uno e indivisível, multicultural e multirracial, que nascia no Ocidente, passava por África e ia terminar no Extremo Oriente. Foi no desempenho dessa ingente missão patriótica que desembarcaram por esse mundo fora em defesa do território nacional.
Exceptuando alguns mobilizados, mais bem informados e um tanto politizados, pois tinham uma visão diferente da dos líderes governamentais sobre a forma de encarar a guerra colonial por acreditarem que a sua solução só era possível através de negociações e nunca por via militar, todos os outros participavam nela sem verdadeiramente questionar nem pôr em causa a razão de ser da sua presença nos territórios ultramarinos.
Neste contexto, integrados na Companhia 785, Batalhão 786, em 1965 fomos mobilizados para combater no Norte de Angola.
Os dois anos de intensa actividade operacional ali desenvolvida criaram em nós laços de forte camaradagem que ainda hoje permanecem como se tivessem sido adquiridos e fossem alimentados de forma regular e metódica desde os mais tenros anos da doce infância.
Numa Angola de tamanho colossal vivíamos no Liberato, aquartelamento de dimensões exíguas, completamente isolados do resto do mundo. Salvo algumas cubatas onde se alojavam os bailundos, nativos deslocados do Sul do território angolano para o Norte em comissão de serviço para trabalhar no cultivo do café, e um único capataz metropolitano, tudo o resto se reduzia à presença da nossa Companhia 785, acomodada em quatro casinhas térreas, dois barracões de madeira cobertos de zinco, um refeitório também resguardado mas despido de paredes e uma cozinha com uma única parede completamente negra de fumo. Capim e mais capim, árvores frondosas e densas matas a perder de vista circundavam o nosso acantonamento por dezenas de quilómetros ao redor.
As espectaculares paisagens daquela riquíssima terra eram um permanente deleite para os nossos olhos embevecidos, não fora as especiais boas-vindas que nos reservavam os acoitados nos esconderijos da selva.
Aqueles que por lá se escondiam e nos atacavam, que tinham de se entregar ou deviam ser por nós eliminados, por serem considerados inimigos da Pátria lusitana, foram quem nos uniu e permitiu que se criassem entre nós laços de camaradagem e uma solidariedade tão activa e tão consistente que só quem por lá andou sabe calcular o seu real significado e dar-lhe o justo valor.
Nos nossos encontros anuais, não nos inquieta reviver os momentos de combate e de recordar que, quando as balas sibilavam por cima das nossas cabeças, podíamos contar com o apoio dos camaradas que nos acompanhavam. Eles davam uma confiança redobrada e uma segurança de tal ordem que nenhuma companhia de seguros jamais poderá cobrir.
Foi nessa argamassa feita com milhares de quilómetros calcorreados, com camuflados empapados de suor e embebidos de lágrimas, muitas vezes perseguidos em permanência pela ronda da morte, que foi moldada a amizade que nos une e a sã camaradagem de que tanto nos orgulhamos.
No último sábado do mês de Maio, uma vez mais, recordaremos em conjunto as vivências do passado, pois estou em crer que nenhum de nós consegue libertar - se da pele adicional que a guerra em nós depositou.
*Doutorado em História.
As reminiscências da guerra
por VALENTINO VIEGAS*(In "Boletim da Casa de Goa" , de Novº. e Dezº./2016)
Todos os anos, em especial nos meses de Maio e Junho, homens
de idade avançada com os cabelos esbranquiçados, muitas vezes acompanhados de
suas mulheres, filhos e netos, encontram- se num qualquer restaurante do País,
previamente escolhido, cumprimentam-se efusivamente e abraçam-se de uma forma
tão forte e tão calorosa que causa surpresa e espanto a quem presencia estas
impressionantes manifestações de afecto. Embora custe a acreditar e por mais incrível que isso hoje possa parecer, de facto, foi a guerra colonial que os uniu.
Há cerca de cinquenta anos, mais dispersos pelas vilas e aldeias nortenhas do que pelas cidades deste país mais ocidental da Europa, cada qual vivia virado para si próprio, desfrutando os doces anos da juventude e reflectindo sobre a melhor forma de realizar os seus sonhos mais prementes.
Obrigados a prestar o serviço militar, salvo raríssimas excepções de oferecimento voluntário, quando jovens haviam sido recrutados para garantir a presença portuguesa nas terras africanas e asiáticas, em nome de um Portugal uno e indivisível, multicultural e multirracial, que nascia no Ocidente, passava por África e ia terminar no Extremo Oriente. Foi no desempenho dessa ingente missão patriótica que desembarcaram por esse mundo fora em defesa do território nacional.
Exceptuando alguns mobilizados, mais bem informados e um tanto politizados, pois tinham uma visão diferente da dos líderes governamentais sobre a forma de encarar a guerra colonial por acreditarem que a sua solução só era possível através de negociações e nunca por via militar, todos os outros participavam nela sem verdadeiramente questionar nem pôr em causa a razão de ser da sua presença nos territórios ultramarinos.
Neste contexto, integrados na Companhia 785, Batalhão 786, em 1965 fomos mobilizados para combater no Norte de Angola.
Os dois anos de intensa actividade operacional ali desenvolvida criaram em nós laços de forte camaradagem que ainda hoje permanecem como se tivessem sido adquiridos e fossem alimentados de forma regular e metódica desde os mais tenros anos da doce infância.
Numa Angola de tamanho colossal vivíamos no Liberato, aquartelamento de dimensões exíguas, completamente isolados do resto do mundo. Salvo algumas cubatas onde se alojavam os bailundos, nativos deslocados do Sul do território angolano para o Norte em comissão de serviço para trabalhar no cultivo do café, e um único capataz metropolitano, tudo o resto se reduzia à presença da nossa Companhia 785, acomodada em quatro casinhas térreas, dois barracões de madeira cobertos de zinco, um refeitório também resguardado mas despido de paredes e uma cozinha com uma única parede completamente negra de fumo. Capim e mais capim, árvores frondosas e densas matas a perder de vista circundavam o nosso acantonamento por dezenas de quilómetros ao redor.
As espectaculares paisagens daquela riquíssima terra eram um permanente deleite para os nossos olhos embevecidos, não fora as especiais boas-vindas que nos reservavam os acoitados nos esconderijos da selva.
Aqueles que por lá se escondiam e nos atacavam, que tinham de se entregar ou deviam ser por nós eliminados, por serem considerados inimigos da Pátria lusitana, foram quem nos uniu e permitiu que se criassem entre nós laços de camaradagem e uma solidariedade tão activa e tão consistente que só quem por lá andou sabe calcular o seu real significado e dar-lhe o justo valor.
Nos nossos encontros anuais, não nos inquieta reviver os momentos de combate e de recordar que, quando as balas sibilavam por cima das nossas cabeças, podíamos contar com o apoio dos camaradas que nos acompanhavam. Eles davam uma confiança redobrada e uma segurança de tal ordem que nenhuma companhia de seguros jamais poderá cobrir.
Foi nessa argamassa feita com milhares de quilómetros calcorreados, com camuflados empapados de suor e embebidos de lágrimas, muitas vezes perseguidos em permanência pela ronda da morte, que foi moldada a amizade que nos une e a sã camaradagem de que tanto nos orgulhamos.
No último sábado do mês de Maio, uma vez mais, recordaremos em conjunto as vivências do passado, pois estou em crer que nenhum de nós consegue libertar - se da pele adicional que a guerra em nós depositou.
*Doutorado em História.
Com
os desejos de que apreciem o trabalho do camarada e Amigo, ex-Fur.Milº.,
Viegas,, envia a todos cordiais saudações o camarada,Botelho
domingo, 4 de dezembro de 2016
FELIZ NATAL E PRÓSPERO ANO NOVO
Depois de dois
anos de ausência destas paragens, resolvi voltar e dar “provas de vida” para, na quadra Natalícia que se aproxima,
apresentar a todos os camaradas e amigos da antiga CArt 3514”Panteras Negras”, os mais sinceros desejos de Boas-Festas de
Natal e de um próspero Ano Novo, na companhia dos seus familiares com muita
saúde, prosperidade, paz e amor. Igualmente aproveito a oportunidade
para tornar estes votos extensivos aos meus antigos camaradas das CArt 785/BArt 786 e CArt 2396/BArt 2849.
Com um abraço do camarada e
amigo, Botelho
domingo, 20 de abril de 2014
Páscoa Feliz/2014
Camaradas e Amigos
Nesta quadra festiva, não quero deixar de
apresentar os melhores desejos de Feliz Páscoa, a todos os meus Camaradas e
Amigos das CArt.785 do BArt.786, CArt.2396/ do BArt.2849 e CArt 3514, na companhia de
todos os seus familiares e amigos com muita alegria, paz, saúde e amor. Para
todos vai um abraço do Camarada e Amigo.
Octávio Botelho
sexta-feira, 29 de março de 2013
Santa e Feliz Páscoa
Nesta Quadra Festiva, não quero deixar passar a oportunidade para desejar a todos os elementos que compuseram as CArt 785/BArt 786-RAP-2, CArt 2396/BArt 2849-RAL-5 e CArt 3514-RAL-3 com quem prestei serviço em diversas zonas da RMA, durante as minhas três comissões na ex-colónia de Angola, os melhores votos de Santa Páscoa, com muita saúde, paz, amor e alegria, na companhia dos seus familiares. De igual modo, faço os mesmos desejos para todos os eventuais visitantes deste Blogue, onde quer que se encontrem. Para todos envio cordiais saudações e um abraço do camarada e amigo, Octávio Botelho.
sexta-feira, 1 de março de 2013
XIX - Exploração fluvial no rio Nengo
Ora cá estou eu uma vez mais na prossecução de narração de alguns eventos levados a cabo por um dos nossos Furriéis e duas praças. Não intervim nessa aventura, que outra coisa não foi, por não ter possibilidades para tal, por não saber dela e, mesmo que soubesse, manda a verdade que se diga, não tomaria parte em tal epopeia. Correndo o risco de “meter a foice em seara alheia”, vou tentar relatar, muito resumidamante o que me contaram e o que vi em imagens que anexarei já de seguida a documentar este “post”. Mas, para que se compreenda bem o risco de tal empreendimento, torna-se necessário esclarecer que o Nengo é um rio de planície e apresenta um traçado em meandros, com uma corrente muito lenta e que mal se nota, dando voltas e mais voltas e, sem sol descoberto, sem uma bússola e não se conhecendo o percurso natural do rio (de oeste para leste) uma pessoa não consegue orientar-se uma vez que as margens do rio são profusamente alagadas e ali se produz uma vegetação compacta de capinzal que dificulta a visão directa do ponto final do percurso que se pretende realizar. Para dar uma ideia do percurso pretendido pelos aventureiros, anexo uma imagem do rio em questão e do percurso que pretendiam fazer, numa hora ou duas.
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Tiveram algumas sessões de treino para a sua aventura, nas quais se azafamaram em alcançarem a forma física necessária para a cabal concretização dos seus intentos. A distância entre o ponto de partida, que era a pedreira do Nengo e o término do percurso era, em linha recta, de pouco mais de 5 quilómetros, mas com os meandros, corrente e contracorrente, deveria contar-se com mais uns cinco ou seis mil metros e isto era para não se descuidarem. Efectuaram os aventureiros alguns exercícios de preparação para a sua viagem fluvial e quando se sentiram preparados para o Dia D, largaram da Pedreira do Nengo, com destino à Ponte que ficava a leste e, como já foi dito, ficava a uma distância de cinco mil metros. Anexo em seguida uma imagem dos treinos efectuados pelos três intervenientes na epopeia que, se revelou mais difícil do que o imaginado por eles. Parecem os exploradores Brito Capelo e Roberto Ivens, em África.
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Chana do rio Nengo, 1-Destacamento, 2-Local da Partida, 3- Chegada à ponte |
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Afundaram, mas nesta zona havia pé |
Findas as sessões de treino, lá chegou o dia marcado para a partida, numa simples canoa indígena, escavada num tronco, equipados com remos improvisados. A navegação era muito tranquila, pois as águas do rio não eram agitadas por rápidos. As águas mais parecem as de um tranquilo lago com ondulação nula e navegação tranquila, talvez até demais, notando-se que a corrente é também muito lenta, o que não ajuda nada ao avanço de percurso. Para avançarem terão que estar com os braços sempre em carga para poderem chegar ao seu destino. O comandante da expedição encontra-se à frente da canoa, com uma expressão de determinação, tal como o seu imediato, enquanto o e último ocupante tem uma expressão de quem vai para uma romaria, sem qualquer preocupação.Anexo uma última imagem sobre este tema em que figuram os intervenientes na aventura.
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Inicio da largada |
Pois o resultado desta aventura, foi que a viagem de cerca de cinco quilómetros, que contavam realizar em muito poucas horas, parece ter-me constado que durou muito mais tempo, pois dadas as características da corrente, andaram às voltas nos meandros do rio e assim a distância aumentou em muitos mais quilómetros e mais tempo de duração. Agora, por me ter metido a descrever acontecimentos que sei por me terem contado, quero pedir desculpas aos intervenientes nos mesmos, pela minha ousadia e invasão da vossa área da vossa competência. Vou encerrar este “post”, enviando cordiais saudações a todos os elementos da CArt 3514 e familiares, da Cart 2396/BArt 2849, CArt 785/BArt 786 e bem assim para os eventuais visitantes deste Blogue que se derem à paciência de me ler. Para todos vai um abraço do amigo e Camarada,
Octávio Botelho domingo, 10 de fevereiro de 2013
Capº.XVIII - O arrastar dos dias na Colina do Nengo
Devido a uma avaria do meu PC, estive impedido de aceder à Net, correio eletrónico e aos blogues(o meu e àqueles em que colaboro) e não pude lançar este “post” nestas Crónicas de Angola, no passado dia 30 de Janeiro. Ontem foi-me entregue o meu PC já reparado e hoje resolvi por em dia o meu trabalho atrasado. Repetindo o que já disse dantes, a minha missão na CArt 3514, não se presta a que tenha grandes episódios de aventuras operacionais para relatar, pois ela era única e exclusivamente administrativa e não me dava nem dá assunto que tenha interesse. Apenas posso relembrar alguns episódios que me chegaram ao conhecimento, através de algumas fotos que documentavam a ocorrência da morte de um leão que fora apanhado com uma armadilha pirotécnica(granada de mão), num dos Destacamentos da Companhia pois que andava a rondar na procura de caça de alguns “cachorros mascotes” que lá andavam ou (quem sabe?!...) se de outra caça mais seleta…Essa foto andou a circular lá no Nengo e é muito provável que esteja incluída no Blogue da CArt 3514 e, por isso, não a vou incluir aqui. Na minha imaginação, estou a ver a defunto animal, não como está na tal imagem, mas com a majestade que lhe é própria e está documentada na foto que aqui e a seguir vou anexar, não como crítica.
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Continuando a relembrar factos ocorridos naquela altura é um facto incontroverso que, quando há um tão elevado aglomerado de pessoas, ocorrem os aniversários dessas mesmas pessoas e que, não obstante estarem fora dos seus familiares, celebravam os seus aniversários com os escassos meios que tinham à sua disposição, sendo esses eventos um escape para melhor suportarem as ausências dos seus familiares e amigos. Sucedia frequentemente serem vários no mesmo dia e assim juntavam-se aos grupos para celebrarem os seus aniversários. Anexo a seguir uma foto em que se encontram como figurantes alguns elementos da CArt.
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Leão em contra-luz sobre o poente |
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Recordo agora os deslumbrantes pores-do-sol que se podiam observar, em especial na época do cacimbo ou das secas, uma vez que eram mais raros na das chuvas. Os pássaros e aves diurnas, nesta hora, num total silêncio e em bandos, procuravam os seus abrigos para pernoitarem. Uma vez completo o ocaso e quando as trevas começavam a invadir o ambiente, começava a ouvir-se o conserto cacofónico das aves noturnas que se prolongava por toda a noite, só parando ao romper da alba, com os cantos das aves diurnas, mais harmónico que o das noturnas. A seguir insiro uma imagem dum desses poentes angolanos afogueados, mas anunciadores de uma paz que, na realidade e infelizmente, ali não existia, pelo menos naquela altura.
Nunes e Guerra, Carrusca, Botelho, Parreira, Costa e Silva, Carvalho, Soares, Parreirinha, Pereirinha e Pais, em cima Duarte, Cardoso da Silva, Diogo e Marques |
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Por-do-sol em Angola |
Este “post” já atingiu os limites a que me propus e vou, por isso, encerrá-lo, enviando cordiais saudações a todos os elementos da CArt 3514, da CArt 785/BArt786 e CArt 2396/BArt 2849 e familiares, assim como a todos os eventuais visitantes deste Blogue onde quer que se encontrem. Para todos vai um abraço do Camarada e Amigo,
Botelho
sábado, 29 de dezembro de 2012
Capº.XVII - Natal nos Trópicos-Nengo-Leste de Angola-1973
Nesta quadra Natalícia, e por estes dias, tenho estado com
recordações de um Natal passado na zona raiana do Leste de Angola, mais
precisamente na Colina do Nengo, no ano de 1973. Com uma antecedência de uns
dois meses, o nosso Camarada Furriel Miliciano Melo Soares, teve a ideia de
ensaiar um coral com um reportório de Canções de Natal. Foi reunido um conjunto
de militares que eram, entre outros de que já me não recordo, o Escriturário
Carrusca, o Cripto, Paulo Ribeiro, o Radiotelegrafista Dinis e muitos outros
mais, incluindo eu também. Desta falta de lembrança de alguns dos elementos que
compuseram o Coral é razão suficiente o terem já decorrido 39 anos sobre essa ocorrência. Estou a lembrar-me do
interesse que animou todo o conjunto que, diariamente e à noite, durante o
serão, se entregava entusiasticamente aos ensaios, dirigidos pelo nosso maestro que, como já disse, era o
Fur.Milº. Soares. Os ensaios eram intensivos e um tanto difíceis, uma vez que pelo
menos, um dos cânticos ensaiados eram
cantados em inglês e francês. Mas as dificuldades superaram-se e tudo saiu da
melhor maneira. Tenho pesar de não ter qualquer imagem dos ensaios e, à falta
de melhor, anexo aqui uma em que figura o nosso maestro e em que figuram ainda
outros dois elementos da CArt 3514, que sou eu próprio e o Fur.Milº.Parreira.
Da esqª. para a dtª: Fur.Milº.Soares, o autor e Fur.Milº.Parreira, no Nengo, em 1973 |
Depois prosseguindo na narrativa que me propus passar a
escrito neste post, sucedeu que, há
poucos dias, ao navegar na Net, deparei com um vídeo do Youtube que trazia,
nada mais nada menos que uma gravação do Kings College, de Cambridge, na
Inglaterra, em que o Grupo Coral daquele estabelecimento de ensino britânico,
apresenta uma magistral interpretação do Cântico de Natal, intitulado “O Holy
Night” que, na versão francesa, tem o título de “Minuit Chretién”.
A execução da canção é excepcional, é a quatro vozes, nomeadamente, primeiros
tenores, contraltos, barítonos e
baixos e ao escutá-la, a sua harmonia dá-nos a arrepiante sensação de que vamos
flutuar e subir ao espaço e, por isso, impressionou-me bastante. Se a quiserem
ouvir, poderão ir ao Blogue da CArt 3514,
pois ali se encontra o vídeo em questão, inserto na margem direita do
mesmo, por cima do Álbum do Blogue. E, pronto!...Por agora é tudo quanto o que
tinha a dizer. No entanto, aproveito para desejar ao colaborador deste Blogue,
Camarada e Amigo Carvalho, a todos os elementos da CArt 3514 e familiares,
assim como a todos os eventuais visitantes, onde quer que se encontrem, a
continuação de Boas-Festas de Natal e os votos de que o Novo Ano de 2013, nos
traga melhores condições do que o que está prestes a findar. Para todos um
abraço de amizade do Camarada e Amigo.
Octávio Botelho
sexta-feira, 30 de novembro de 2012
Capº.XVI-Movimentação Gago Coutinho-Nengo
Neste Capítulo, pretendo rememorar a transição de locais
durante a minha permanência na ZML com o estacionamento em dois locais distintos e
que foram Gago Coutinho e a Colina do Nengo. Recapitulando, tínhamos saído de
Luanguinga, aonde tínhamos chegado nos princípios de 72 e ali permanecemos uns
meses, tendo posteriormente sido colocada a sede da CArt 3514 no Aquartelamento
de Gago Coutinho, até que se terminassem as obras de construção da sua nova
sede cuja situação estava prevista para uma localização de nome Mussuma,
situada a poucos quilómetros a sul de Gago Coutinho onde fora colocado um
Destacamento da nossa Companhia com a missão de construir a futura sede, que,
dada a proximidade da Vila, se prestava a “desenfianços” do pessoal que,
de forma descontraída e inconsciente fazia os seus “raids” aventurosos,
percorrendo a pouca distância a pé e sem as mínimas precauções de segurança, tendo alguns deles sido apanhados
nessas aventuras. Resolveu-se afastar mais o acampamento que ficaria a 40 Km , contra os l0 de antes. De Gago Coutinho
saímos para a Colina do Nengo por volta do início de 1973, até 14JUN74,
tendo sido rendidos pela CAÇ 4246 naquela data. Da nossa vida quotidiana em
Gago Coutinho pouco há a dizer e esse pouco já foi sobejamente ventilado. Uma
vida de pasmaceira, ocupada com os rotineiros trabalhos administrativos e desse
tempo apenas me ficam na recordação os soberbos pores-do-sol que ocorriam diariamente,
nas épocas das secas e de que apresento a seguir uma imagem bastante
elucidativa.
Por-do-sol no Leste de Angola |
Assim,saímos de Gago Coutinho e fomos para o Colina do Nengo,
aquartelar num estacionamento que, à vista de alguns outros por onde andei,
parecia uma “estância de turismo”, com instalações seguras para a administração,
logística, Cripto e Trms, Messe de Oficiais e Sargentos, Cozinha, refeitório,
Cantina, Oficinas Auto e Depósitos de Materiais Diversos. O pior era o
alojamento de praças ser composto por barracas cónicas de lona, mas, dadas as
condições da missão que tínhamos, não podia ser de outra forma, pois viviam como nómadas em destacamentos móveis com a missão de dar protecção a trabalhos de
segurança de construção de estrada, que implicava a mobilidade contínua dos militares
encarregados de tal missão. Aqui e agora anexo outra imagem do Aquartelamento"Colónia de Férias" de que desfrutávamos.
Destacamento sede da CArt 3514, na Colina do Nengo |
A propósito da classificação de “estância de Turismo”, devo
dizer que tal nomenclatura é um tanto ou quanto forçada, pois a verdade era
que, por vezes, tínhamos dificuldades em reabastecimentos logísticos, já que,
por más condições climáticas ou de qualquer outra ordem, tal sucedia por causas
de muita natureza que nos obrigavam a recorrer,
sem abusos, evidentemente, aos meios à nossa disposição, nomeadamente à caça.
Nesta actividade, tínhamos uns associados que nos ajudavam muito, em troca de
alguma compensação na repartição dos resultados.Eram os elementos da FAP estacionados no Aeródromo de Gago Coutinho, junto dos Batalhões ali
aquartelados. Aqui anexo uma imagem de descarga de um troféu de caça na Colina
do Nengo, onde era limpo e esquartejado o ou os animais caçados, levando eles consigo a sua parte da caçada.
Gunga suspensa do guincho do Allouette III da FAP |
A vida nestes locais de isolamento era um bocado dura e
difícil de enfrentar e, por vezes, destravava-se qualquer mecanismo e, para
afastar e esquecer muitas coisas, recorríamos a meios expeditos para evitar
muitas lembranças que essa situação, dura e difícil, provocara. E o resultado
dessas ocorrências era o que documenta a foto que anexo a seguir . Boa disposição e uma relativa descontracção!...
.
E, parece-me que este “post” atingiu o limite que me tinha
proposto. Envio cordiais saudações a todos os elementos da CArt 3514 e
familiares, da CArt 785/BArt 786 e da CArt 2396/BArt 2849 e também para todos
os eventuais visitantes deste Blogue onde quer que se encontrem. Para todos um
até breve, com um abraço do Camarada e Amigo,
Octávio Botelho
1º.Plano: Alf.Rodrigues e Parreira;2º.Plano: Duarte; 3º.Plano: Diogo, R.Sousa, o autor e Cardoso da Silva, no Nengo |
terça-feira, 30 de outubro de 2012
Cap. XV - Reavivar recordações
Antes de mais, quero apresentar
as minhas desculpas pela longa ausência destas paragens. Na verdade, falta
apenas uma semana para que complete uma ausência de dois meses destas lides.
Mas, sem que seja de primordial importância justificar esse atraso, quero assim
mesmo dar uma justificativa de tal ocorrência que, embora não directamente
ligada a ela, não deixa de ser uma razão com certo peso. E começando, quero
dar-vos a saber que o mês de Setembro findo foi, para mim, bastante ocupado e
manteve-me fora da minha residência habitual por uns largos dias e, como não
levei comigo o meu PC, como resultado natural, acumulou-se um grande acervo de
e-mails que tenho o cuidado de ler quantos apareçam, responder aos que requeiram
resposta e ainda arquivar e guardar os anexos (power points, vídeos,
anedotas,etc) contidos nessas correspondências. A partir de 21 de Setembro
estive em Portugal continental para assistir ao convívio anual da CArt 3514,
que teve lugar em Évora no dia imediato.
Escadaria ao fundo da Parada Principal do ex-RAL-3(hoje Polo da Universidade de Evora )-Ex militares da CArt 3514 |
Anexo aqui uma imagem desse convívio, em que
se encontra a maioria dos participantes e que foi bem concorrido e muito
competentemente realizado pelo camarada Borrego Parreira. Houve também a
presença de dois elementos que se estrearam nesse evento e que foram o Cabo MAL
Pimenta e o Sold.CAR Norte. Foi, como já disse acima um evento muito animado,
concorrido, em que se recordaram os
camaradas que caíram na luta e as
peripécias ocorridas há mais de quarenta anos. Junto aqui outra foto deste evento .
Findo este convívio, cada qual regressou a suas casas, mas não eu pois que, no dia imediato, tinha pela frente mais um convivio , desta vez em Grândola, e com pessoal da CArt 2396 do BArt 2849, com quem cumpri em Cabinda a minha segunda comissão de serviço em Angola, sendo esta, para mim, a primeira vez que estive em convívio com este pessoal desde que o deixei em 1970. Foi um encontro que foi uma surpresa para a maioria desse pessoal, uma vez que apenas uma pequena quantidade de pessoas que organizaram o evento sabia da minha presença no mesmo. Foi um momento bastante forte para mim. Das pessoas presentes, poucas reconheci, quando muito umas três ou quatro. No entanto, quase todas me reconheceram mal me viram e fizeram uma grande festa. O convívio, também muito bem realizado, com um serviço muito bom, mas mais virado para a cozinha alentejana, apesar de Grândola pertencer a Setúbal .
Ex-militares e familiares da CArt 3514, no Restaurante Quinta Nova do Degebe, arredores de Evora |
A esqª..-Promotor do Convivio; Centro-Ex.Cmdt CArt 2396; dtª.-O Autor |
Aqui insiro duas fotos deste convívio que, como já disse, teve lugar em
23 de Setembro findo , em Grândola. Ao fim da tarde, tendo conseguido uma
boleia de um camarada ex.Fur.Mil., segui para a estrada da
Banatica, no Monte da Caparica , para a casa da minha irmã, onde fiquei ate ao
dia 27 de Setembro, data em que parti de
regresso aos Açores, terra da minha naturalidade e residência. Como vêem, com
esta folga suplementar, em que estive ausente quase uma semana, fiquei tão habituado a boa vida que pouco me
apeteceu mover sequer uma palha e o resultado foi este. O post já atingiu a extensão
que me propus e, por isso vou encerra-lo, enviando cordiais saudações a todos
os elementos da CArt 3514 , CArt 2396 e CArt 785 e familiares, assim como a
todos os eventuais visitantes deste Blogue, onde quer que se encontrem. Para
todos um abraço do Camarada e Amigo,
Octávio BotelhoNota do Autor – Como digo no título, este post dedicou-se a reavivamento de Recordações . Na próxima oportunidade retomarei o tema que seguia anteriormente. Um abraço.
Octávio Botelho
quinta-feira, 6 de setembro de 2012
Capº.XIV - Prossegue a saga no Leste de Angola
Decorridas que são quase três semanas de ausência destas
paragens que, a título de férias me souberam muito bem, já estava com saudades
de voltar para dar continuidade à missão a que me propus e ao mesmo tempo, voltar
ao vosso convívio para relembrarmos episódios ocorridos já há uns 40 anos de distância,
quando outras coisas que não as doenças e a idade nos apoquentavam. Mas, felizmente, foi
passado esse “cabo tormentoso”, cuja travessia não nos deixou marcas de maior,
graças à juventude, forças e saúde que, nessa época,
tínhamos em abundância e nos fizeram
passar incólumes por muitos transes e hoje, desse tempo tão distante, sentimos
até saudades, não da situação então vivida, que não foi nada grata para ninguém,
mas sim daquela juventude, força e saúde que hoje está tão mudada e
abalada(falo por mim) e ainda da unidade, convivência, amizade e camaradagem que, até
hoje, se encontra florescente e viva como naqueles dias que há tanto tempo se
passaram, sendo renovadas nos convívios que, anualmente e de há uns anos para cá, se vêm
realizando.
Acampamento e Aquartelamento do Nengo. No céu, o perfil do velho avião da II Guerra Mundial, Nordatlas(1973) |
E, como recordar é viver,
aqui vai mais uma imagem, captada no ano de 73, na Colina do Nengo, vendo-se em
primeiro plano, o acampamento de barracas cónicas, à esquerda, o
alojamento de oficiais e à direita, o parque de estacionamento das oficinas de mecânica Auto. No segundo plano a
“chana”ou “anhara” do Nengo e em terceiro plano, a mata arbustiva típica das
regiões semi-desérticas de Angola. Ao longo do extremo direito, até ao
horizonte distante, verifica-se o alinhamento da estrada em construção para Ninda e extremo
sueste de Angola(Luiana). Em sobrevoo. na imagem destaca-se no céu, o perfil do
célebre avião, Nordatlas, que nos servia de meio de reabastecimentos,
transporte de pessoal e correio. Enquanto permanecíamos em Angola, trabalhávamos quando era necessário, muitas vezes
fazendo serões durante a noite uma vez que durante o dia era tanto o calor que
nem nos podíamos mexer, conforme a estação que se atravessava e então era
aproveitado o “fresco” da noite para se trabalhar mais comodamente. Quando assim sucedia,
descansávamos de dia, para compensar as noites perdidas. A imagem que anexo,
confirma o que acabo de dizer.
Como se pode ver, aqui estou eu deitado na minha cama em
pleno dia , no meu quarto que compartilhava inicialmente com o 1º.Sarg.Meira Torres e,
depois que ele saiu da Companhia, foi para lá um Furriel Milº. de quem, para dizer a verdade, após decorridos
tantos anos, já me não lembra o nome. A esse furriel, peço que me desculpe
por já me não recordar de quem ele foi!...Esta imagem foi captada
em 73 ou 74, no aquartelamento do Nengo. Em seguida, prosseguindo em evocações,
anexo outra foto.
T6 da FAP, sobrevoando o Aquartelamento do Nengo, em 1973 |
É uma imagem captada
no Aquartelamento do Nengo vendo-se, em primeiro plano, uma série de militares, de costas e que, por essa razão, são
completamente inidentificáveis. No segundo plano, está uma viatura Berliet
em descarga à porta do Depósito de Géneros, que estava situado no edifício tipo “bidonville”, em
terceiro plano. No ar, sobrevoando o acampamento e agitando as asas em saudação
ao pessoal em terra, dois aviões T6 da FAP, cuja base era no aeródromo de Gago Coutinho, anexa ao aquartelamento do
BArt 6320, que rendeu o BCav 3862,”Cavalo Branco”, no Comando do Subsector.
Este pessoal da FAP tinha uma ligação muito forte com pessoal da CArt 3514, por
razões que não interessam aqui referir e, sempre que tinham oportunidade,
sobrevoavam o nosso aquartelamento, saudando o pessoal, como disse acima, com a
típica agitação das asas. Este “post” já atingiu o tamanho a que me tinha proposto
e, assim sendo, vou encerrá-lo, enviando cordiais saudações para todos os
elementos da CArt 3514 e familiares, da CArt785/BArt 786 e da CArt 2396/BArt
2849 e ainda para todos os eventuais vistantes deste Blogue, onde quer que se
encontrem. Para todos um até breve com um abraço do Camarada e Amigo,
Octávio Botelho
quinta-feira, 16 de agosto de 2012
Capº.XIII - Um "post" insólito e inesperado
Tal pedido, que considerei irrecusável
do meu camarada da minha segunda comissão, que sei que, sabendo com bastante
antecedência do nosso convívio em Évora no dia 22SET, fixou o dele para o dia
imediato, atendendo à minha estadia num lugar tão próximo e que, facilmente,
poderia galgar para poder confraternizar em Grândola com eles. Acentuo que dos
três convívios a que já assisti, dois foram
com a CArt 3514 , outro com a CArt
785/BArt786. Com a CArt 2396/BArt 2849, será
o primeiro convívio, que somando com o vosso deste ano, será o quarto a que
assisto e que será talvez o derradeiro, pois já sinto algumas dificuldades em
deslocar-me: Sofro dos pés, tenho diabetes e sou insulino-dependente, o que
obriga a ter seis pequenas refeições diárias, de três em três horas e sou ainda
doente cardíaco e a prudência aconselha-me e deixar-me de aventuras para as
quais já tenho muito pouco estofo. Agora acho que já cheguei à idade de receber
visitas e não de fazê-las por meio de via aérea ou por qualquer outro meio.
Desta vez, vou passar em claro a sequência dos meus “posts” sobre a CArt 3514 e
o Leste de Angola, mas prometo que dentro de pouco tempo continuarei a recordar
episódios e imagens da minha última comissão em Angola,prosseguindo, assim, com as narrações de episódios soltos,
documentados com fotografias dos meus arquivos informáticos, como vinha
sucedendo anteriormente. Ainda antes de me encontrar em Évora convosco, espero lançar
mais um “post”,prosseguindo com a nossa saga do Leste de Angola, desde o
Luanguinga, Gago Coutinho, Sessa, Mussuma,
Nengo até Ninda. Este “post” já atingiu a extensão a que me propus e vou
encerrá-lo, apresentando os meus agradecimentos ao meu colaborador na parte
fotográfica, o camarada ex-fur.mil.Carvalho, a todos os elementos da CArt
785/BArt786, da CArt 2396/BArt 2849 e da CArt 3514 e familiares, assim como para
todos os visitantes deste Blogue, onde quer que se encontrem. Para todos um até
breve com um abraço de amizade do Camarada e Amigo,
Octávio Botelho
sexta-feira, 27 de julho de 2012
Capº.XII - Passar os dias no Leste de Angola
Passar os dias, em qualquer sítio, desde que seja num ambiente atractivo e agradável, nada custa
e o tempo passa-se quase sem dar por isso. Para nós, militares, enquanto
deslocados em “missão de soberania”, como se dizia naquele tempo, era também e
de que maneira, bastante difícil de passar o tempo, já pelas condições
climáticas e ainda pelo estranho ambiente povoado de toda uma série incontável
de estranhos amimais, desde o elefante que, embora não sendo carnívoro, se lhe
der para atacar um ser humano, este não terá pernas que cheguem para se
proteger dele. E isto para não falar noutras espécies mais agressivas e até
classificadas de ferozes, como os leões, onças, chitas, etc. Assim é até
compreensível e natural que, no meio de
um ambiente que é hostil ao ser humano, se procurem todas as possibilidades para
se distraírem que, evidentemente não são diárias. Assim, indo rebuscar os meus
recursos fotográficos, fui encontrar o documento que anexo o seguir:
S.Martinho/73(?)Da esqª.para a dtª:Sold/Trms Parreira, Botelho, Furrieis.Parreira,Pereira,Duarte,Marques Monteiro, Barros, Diogo, Carvalho e Soares |
É una foto que foi captada, salvo
erro, no ano de 1973, na Messe de
Oficiais e Sargentos da CArt 3514, uma nova dependência que dantes não existia
no Acampamento do Nengo . A festividade comemorada foi o São Martinho, pois na
mesa estão presentes as tradicionais castanhas e vinho. Quanto aos figurantes
que se encontram nela, a começar pela esquerda, vêm-se: O Sold.Trms Parreira, o
autor, 1º.sarg.Botelho, Furiéis Parreira, Pereira, Duarte, Marques, Monteiro, Barros, Diogo, Carvalho e Soares. Como se pode ver o ambiente é
descontraído e alegre, dentro do possível, pesem embora as dificuldades que num
contexto de tal natureza devem existir sempre, achando eu que não deve ser
necessário enumerá-las por serem óbvias. Fui, novamente, procurar nos arquivos e encontrei outra imagem que vou anexar já de seguida:
Da esqª.para a dtª: Indivíduo não identificado(possivelmente serei eu), os furriéis Soares e Cavalho e no fim o Alf.João Brás |
Esta foto foi captada ainda no
Depósito de Géneros, que nos serviu de Messe no Nengo antes da construção
daquela que consta na foto anterior. Nesta imagem figuram, da esquerda para a
direita, um indivíduo não identificado, pois só de lhe vê a nuca e os ombros e
que, muito possivelmente, serei eu, seguindo-se os Furriéis Soares e Carvalho
e, por fim o Alf.João Brás. Pelo cenário apresentado, em que aparecem sacos de
farinha, arcas congeladoras e bidons, um deles contendo azeite, percebe-se que
se trata de um Depósito de Géneros de Campanha. Continuando a pesquisa nos meus
arquivos, encontrei a imagem que anexo e seguir:
Nela figuram, da esquerda para direita, o autor,
1º.Sarg.Botelho, o Cap.Milº.de Artª.Rui Crisóstomo dos Santos e finalmente, o Fur. MAP e “Cantineiro” da CArt 3514, Manuel Cardoso da Silva. A localização desta foto é no
alpendre do alojamento de Oficiais no Destacamento do Nengo, Sede da Companhia.
Foi uma reunião para resolução de assuntos administrativos relacionados com a
Cantina e Vencimentos de Pessoal, por alturas do ano de 1973. São
acontecimentos isolados, mas que demonstram que também haviam reuniões de
trabalho para se tratar de assuntos de interesse e bem- estar do pessoal e não
só festas e comemorações como se poderá inferir pelas imagens já anteriormente
aqui colocadas. Anexo a seguir uma última imagem que encontrei:
Trata-se de uma foto de uma refeição num dia normal e nela
figuram, da esquerda para a direita: O Alf. Costa e Silva, seguindo-se o nosso
Cozinheiro e Barista, Sold. Vicêncio
Carreira, o Sold.CAR Liberto, o Sold.Trms.Parreira e. por fim, o 1º.Sarg.Botelho autor deste “post”. Esta imagem demonstra que não
haviam problemas na convivência entre as diversas graduações, pois todos se tratavam
com respeito devido. Além do mais, há
assinalar que boa parte dos nossos efectivos em praças era originário de
Cabo Verde e que entre os europeus e os africanos insulares, nunca houve, mutuamente,
o mais insignificante acidente de ordem racial, durante os cerca de quase três
anos de convivência mista entre os elementos da CArt 3514,
desde a sua formação em Évora, em 71, até ao fim da Comissão em 1974. Este “post”
já atingiu o tamanho que deveria ter e, por isso, vou encerrá-lo, enviando
cordiais saudações a todos os elementos da CArt 3514 e familiares, assim como aos elementos da CArt 785/BArt 786
e aos da CArt 2396/BArt 2849 e bem assim para todos os visitantes deste Blogue,
onde quer que se encontrem. Para todos, sem excepção,vai um até breve com um abraço do camarada e
Amigo,
Da esqª. para a dtª.:1º.Sarg.Botelho, Cap.Milº.Crisóstomo dos Santos e Fur.MAP e "Cantineiro" Cardoso da Silva |
da esqª. para a dtª. Alf.Costa e Silva, Sold.Vicêncio Carreira, Sold.Liberto, Sold. Parreira e 1º.Sarg.Botelho |
Octávio Botelho
sexta-feira, 13 de julho de 2012
Capº.XI- Memórias dispersas do Leste de Angola
Devido a falta de inspiração, falhei o “post” semanal que
era habitual editar com aquela periodicidade. Em agravamento para a falta de
inspiração, estava eu também convencido de que deveria seguir a sequência
cronológica dos factos, tendo, depois de efectuar uma profunda reflexão sobe a
utilização desse sistema, chegado à conclusão de devia abandonar essa ideia e
deixar-me conduzir pela documentação fotográfica que tenho ao meu dispor que,
não sendo em muita quantidade é, em qualidade, bastante sofrível. Assim,
resolvi deixar de preocupar-me com a cronologia até porque, estas Crónicas não
têm a pretensão de serem um Diário, mas sim um relato documentado mas
simplificado de acontecimentos dispersos no tempo, sem a preocupação com a
respectiva sequência no tempo. Seguindo esta ordem de ideias, fui pesquisar os
meus arquivos e encontrei a foto que a seguir vou anexar a este “post” e de que
vou fazer uma descrição do local em que
foi captada e dos elementos nela figurados: .
Da esqª. para a dtª: Carmo, Botelho, Soares e Diogo |
A localização desta imagem situa-se no acampamento do Rio
Luanguinga, primeira sede da CArt 3514 e, portanto no início da nossa Comissão
no Leste de Angola, em 1972 .Todos os seus figurantes são conhecidos de todos,
mas não quero deixar de os identificar: A partir da esquerda para direita, o
1º.Cabo Carmo, o autor deste “post”,
1º.Sarg. Botelho, o 1º.Cabo Socorrista Elísio Soares e , por fim o nosso
Vagomestre, Fur.Diogo. Não se consegue identificar o militar encostado ao Jeep
Willys, que se encontra no extremo direito. Agora e já sem preocupar-me com a
ordem de ocorrência dos factos, lá fui novamente à “pesca” e
fui encontrar uma outra imagem inédita nesta III Parte destas Crónicas, e com
um “salto no tempo”, encontrei uma foto, que nos coloca já no
Acampamento do Nengo, que se encontrava em fase de acabamentos, já em 1973, e
que insiro a seguir:
Todos os figurantes são sobejamente conhecidos, mas de
qualquer maneira, gosto de identificá-los um por um, para provar a mim próprio
que, embora já um tanto velhote, graças a Deus, ainda não fui atingido pela
“Alzheimer”. Assim, da esquerda para a direita, está o nosso Fur. Melo Soares,
seguindo-se o autor deste “post”, 1º.Sarg. Botelho e por fim o nosso Fur.
Parreira. Até agora, parece-me que não falhei nenhum!...Mas ainda quero ver se encontro mais uma foto para rematar a
composição deste “post”. Fui à procura e, de facto, com mais um pequeno salto no
tempo, lá fui desencantar mais uma imagem que não resisti a incluir já a
seguir:
Soares, Botelho e Parreira |
Alf.Rodrigues, Carvalho, Caetano e Botelho |
Nesta foto tirada no Nengo em 73 ou 74, estão figurados os
seguintes elementos, da esquerda para a direita: Alf.Milº.Rodrigues, o nosso
Fur. Milº.Carvalho, o Soldado/TRMS Caetano e, por fim, o autor deste “post”,
1º.Sarg. Botelho. Trata-se de uma comemoração qualquer, talvez um aniversário
de um dos figurantes, uma vez que parecem estar equipados para isso. E depois
de ter andado aqui aos “saltos no tempo”, consegui engendrar um “post” que espero
não tenha sido maçador e que tenha feito recordar ocorrências passadas já há
uns 40 e tal anos de distância, que despertam nostalgia e saudade , não daquilo
que tivemos por que passar naquele tempo pois não sou saudosista, mas da convivência, camaradagem e amizade
cimentadas na adversidade que a, todos sem distinção, atingiu e se manifesta ainda hoje nos
convívios realizados anualmente. E por agora, vou ter de encerrar este “post”, endereçando cordiais saudações
a todos os elementos da CArt 3514 e familiares, aos da CArt 785/BArt 786 e da
CArt 2396/BArt 2849, assim como para todos os eventuais visitantes deste
Blogue, onde quer que se encontrem. Para todos um abraço do camarada e amigo,
Octávio Botelho
sexta-feira, 29 de junho de 2012
Capº.X -Exposição de antiguidades das F.Armadas
Desde o princípio dos trabalhos que me propus realizar ao
iniciar estas Crónicas, me considerei como uma das pessoas menos qualificadas
para os realizar, uma vez que em apenas uma das minhas comissões, a primeira,
fui empenhado em missões de combate propriamente ditas. Nas restantes duas
Comissões, embora tenham sido consideradas missões de guerra, não o foram de
combate real, pois as minhas missões foram essencialmente preenchidas com
funções administrativas, que para efeitos de historial, não se prestam muito ao
preenchimento de umas Crónicas dignas de tal nome. Não ocorrem quaisquer
episódios que dêem boas histórias , pois o trabalho em que estamos ocupados não
se presta para elas e, poderá suceder, como agora, que me veja com pouco ou
nenhum assunto para ocupar este “post” que estou a tentar levar a bom termo.
Assim, e como último recurso, vou debruçar-se sobre a antiguidade
dos materiais de que estávamos equipados para a temática ofensiva e
defensiva que era primordial para o bom cumprimento da nossa missão nos
territórios da ex-colónia portuguesa de Angola.
Metralhadora Pesada Breda 7,9 mm m/38 |
Para começar, vou integrar a seguir uma
imagem de uma arma de origem italiana e que, ao tempo, já tinha uma respeitável
idade, pois tinha nascido em 1938 tendo, para uma arma, uma respeitável duração
de 34 anos, portanto, já tinha sido estrela na II Guerra Mundial e, embora assim fosse, desempenhava muito bem
e sem falhar, a sua mortífera missão , com poucas ou raras avarias mecânicas.
Material velho, mas de excelente eficiência. Havia uma outra estrela de
antiguidade, mas com uma elevada e eficiente “performance”, desta vez, no ramo
auto. Só tinha um defeito: a sua suspensão era de uma rigidez insuportável e,
em viagens longas e por caminhos acidentados, deixava os pobres passageiros com
dores insuportáveis em todo o corpo, mas principalmente e pior na coluna dorsal,
que ficava como que desfeita com os solavancos que lhe eram propinados.
Jeep Willys m/940 |
Anexo aqui e agora uma imagem dessa
estrela, de origem americana, nascida por volta dos anos 30-4l, sendo
largamente utilizado pelas forças Aliadas, durante a II Guerra Mundial. Após
ter sofrido algumas alterações, surgiu com as formas e modelos idênticos ao da
imagem anexa. Prosseguindo agora, quero apresentar mais uma estrela , mas desta
vez, no ramo Aeronáutico . Trata-se do famoso avião de caça T6 Harvard, que foi
criado em 1941 nos EUA e usado como avião de treino para os pilotos das USAF,
USNavy e RAF, até 1950.Vieram para Portugal em 1947 e 1950, sendo utilizados
também como aviões de treino para os pilotos da FAP. Foram utilizados na Guerra
Colonial e abatidos ao efectivo em 1978. Podem ainda ser vistos no Museu do Ar
em Alverca e pode-se ainda voar neles. Anexo
a seguir uma imagem do aparelho em questão.
Avião caça T6 Harvard |
.Prosseguindo na exposição das
antiguidades das Forças Armadas em Angola em geral e em Gago Coutinho, em
particular, cabe agora a vez a outra antiguidade, esta a campeã de todas as
antiguidades citadas acima. Trata-se da avioneta DO 27. Foi esta marca criada na Itália em 1922, num estaleiro
de construção de hidroaviões, tendo ali sido construído o maior avião comercial
antes da II Guerra Mundial e, durante esta foram construídos vários modelos do
mesmo avião, praticamente até aos dias de hoje.
Avioneta DO 27, da FAP |
A seguir junto uma imagem do aparelho da
FAP de nome DO 27, que era utilizado em muitas missões,
nomeadamente as de PCA(Posto de Comando Aéreo), avião de reconhecimento, avião
de reabastecimentos, transporte de correio em zonas inacessíveis e muitas outras
que agora me não ocorrem. Este “post”, fugiu à regra do tema, mas disso já
expliquei as razões acima. Também já atingiu o tamanho habitual e, por isso,
vou encerrá-lo, enviando cordiais saudações a todos os elementos da CArt 3514 e
familiares, da CArt 785/BArt 786 e da CArt 2396/BArt 2849, assim como para
todos os eventuais visitantes deste blogue, onde quer que estejam. Para todos
um abraço, com um até breve, do amigo e Camarada,
Octávio Botelho
sexta-feira, 22 de junho de 2012
Capº.IX - Memórias dispersas do Leste de Angola
Nesta época e neste mês em especial e há cerca de 40 anos, continuava a CArt 3514 com o seu comando sedeado em Gago Coutinho e, como já referi em “post” anterior, a vida era como de costume, bastante rotineira, limitando-se a nossa missão aos serviços burocrático-administrativos, que surgiam por fases, sucedendo que tínhamos, no nosso trabalho, ora épocas “em cheio” , alternadas com épocas “de vazio” e, nesses períodos de pouco que fazer, tentávamos, dentro de possível passá-los da melhor maneira e dentro das possibilidades. Na minha equipa de trabalhos tinha excelentes colaboradores, sendo que o primeiro entre todos era, sem sombra de dúvidas, o meu eficiente e desembaraçado Cabo Escriturário António Carrusca e sempre que havia um intervalo de tempo livre, lá dávamos uma saltada a casa dos nossos vizinhos da FAP, para uma visita ao Bar deles, para se emborcarem umas cervejas, mas sem se abusar, pois que muitas vezes, depois dessas libações, tínhamos que prosseguir o trabalho no qual se tinha feito uma pausa para descontrair. Também não quero esquecer que o Cabo Socorrista Elísio Soares, também dava uma preciosa ajuda nos trabalhos de dactilografia quando este serviço apertava e, até eu, se necessário e não houvesse outra ajuda alinhava em trabalho de dactilógrafo, não me tendo, por isso, caído dos ombros os distintivos hierárquicos.
Botelho,o autor,"barman" da FAP e Cabo Escritº.Carrusca, em Gago Coutinho em 1972 |
Para ilustrar um desses intervalos realizados no Bar da FAP, junto, a seguir uma imagem elucidativa, captada no citado local, e nela figuro eu, o “barman”, militar da FAP e o que era, ao tempo, o meu eficiente Escriturário. É uma imagem que acentua de forma flagrante a diferença abismal que existe nas nossas aparências físicas daquele tempo para as da época actual, mas a verdade é que esse facto é decorrente de um processo irrevogavelmente natural e estamos sempre bem, seja em que tempo e modo for. E assim, decorria a nossa vida sendo passada da melhor maneira possível, aproveitando-se as oportunidades para distrairmo-nos da pasmaceira em que se vivia,implantados no meio de nenhures, não deixando para trás qualquer possibilidade de fazer por esquecer a nossa situação de prisioneiros em liberdade, pois para mim era esta a melhor definição da situação a que estávamos todos, sem excepção, sujeitos.
A seguir, adiciono uma outra imagem, esta tirada um pouco antes da anterior, pois recordo-me que foi tirada quando estávamos em Luanguinga e que suponho, deva ter um significado especial para primeiro figurante da esquerda, cuja apresentação faz lembrar a de um célebre careca, actor de cinema, que se chamava Yul Breynner , mas que, se não estou enganado foi originada na “carecada” que lhe foi dada pelo Comandante ou 2º.Comandante do BCAv 3862 “Cavalo Branco”.A imagem deve ter sido captada em 1972, no único Bar-Restaurante existente na vila, cujo proprietário se chamava Castro e que era vulgarmente conhecido como “O Mete Lenha”. Figuram na imagem, para além do Fur.Carvalho, um condutor, o Cabo Freitas “Padeiro”, outros dois condutores, o Fur.Arlindo Sousa, os Soldados Castro e Caetano. Ao centro e por de trás, estou eu.
Cabo Socorrista Elísio Soares, junto à Igreja da Missão de São Bonifácio, em Gago Coutinho em 1972/73 |
A seguir, incluo uma imagem do Cabo Socorrista Elísio Soares que, como referi há pouco, foi um empenhado auxiliar nos serviços de dactilografia da Secretaria, sempre que o serviço apertava e se encontrasse na sede. Sempre animado de vontade de ajudar, foi o Cabo Elísio Soares, um prestimoso auxiliar em serviços de secretariado que, embora não sendo da sua especialidade, desempenhou de forma impecável competente e conscienciosa. Embora tardiamente, aqui estou para agradecer-lhe a prestimosa colaboração que dedicou a um trabalho extra e que não era de sua obrigação fazer. A foto inserida, mostra o Cabo Socorrista Soares, numa pose que revela a sua faceta de pessoa voluntariosa e ciente de que sabe o que quer e para onde ir.O local, é a Igreja da Missão de São Bonifácio, à data de 1972/73, de que hoje apenas existem ruínas provocadas por um derrotado Movimento de Libertação que achou que o edifício sagrado podia ser utilizado contra eles como instalação “defensiva” ou“ofensiva” militar. Na minha opinião, uma opção errada, mas este é um caso que “aqui” e “agora”, não é de debater. Este”post” já atingiu a extensão que lhe tinha fixado e, por isso, vou encerrá-lo, enviando cordiais saudações a todos os elementos da ex-CArt 3514 e familiares, da CArt 785/BArt 786 e da CArt 2396/BArt 2849, assim como para todos os visitantes deste Blogue, onde quer que estejam e se dêm à paciência de me ler. Para todos um até breve, com um abraço do Camarada e Amigo,
Octávio Botelho
sexta-feira, 15 de junho de 2012
Capº.VIII - Permanência em Gago Coutinho
Situo a narrativa
deste Capítulo, na antiga Vila de Gago Coutinho, actualmente conhecida pelo
nome de Lumbala Nguimbo, onde a vida, para mim, era de uma monotonia
desesperadora. Tal condição fazia com que tentássemos passar o tempo da melhor
maneira possível, aventurando-nos em passeios pelas redondezas da vila que não
era, em realidade muito extensa, uma vez que a sua área urbanizada mais
compacta, correspondia aproximadamente a quarenta hectares e meio. Era e é uma vila situada no meio de nenhures, sem
povoações vizinhas próximas, a não ser as típicas sanzalas indígenas que, ao
tempo, rodeavam a povoação por quase todos os lados. Das casas dos europeus,
não tenho qualquer imagem, pois as mesmas
em si, se revelavam pouco interessantes pois eram cópias fiéis das casas
que tinham na Europa e não tinham na sua construção ou estilo qualquer exotismo
que despertasse interesse. Outro tanto já não posso dizer das habitações
indígenas que, a par do exotismo da sua construção(madeira, nas estruturas e
colmo(capim), nas paredes e tectos) que
são típicas daquela região.
O autor numa sanzala em GagoCoutinho |
Anexo aqui uma
imagem dumas dessas casas(cubatas), que mesmo com a pobreza dos materiais à sua
disposição, já tentam uma imitação dos europeus, construindo em anexo à sua
cubata, um alpendre com uma espreguiçadeira, feita de aduelas de barril, para
fazerem as suas sestas à sombra, fora dos raios ardentes do sol. Pela minha
parte, achava e acho ainda muito bem , que os autóctones tenham e gozem das
suas comodidades. Tinham também uma bonita igreja, situada na periferia de um
arvoredo, por de trás do qual se encontrava e encontra ainda hoje a Missão
Católica de São Bonifácio, atribuída a uma Comunidade de Irmãs que têm
variadíssimas missões de carácter religioso, escolar e social em benefício das
populações locais. Da linda igreja que lá deixámos, hoje, infelizmente,
apenas restam ruínas e como lembrança do edifício sagrado desaparecido, anexo,
a seguir, uma imagem do mesmo tal como era outrora.
Igreja da Missão de S.Bonifácio, em Gago Coutinho, em 1974 |
Voltando a falar do
estilo de vida naquela vila, era certo que mensalmente e por motivos administrativos tinha de ir
levantar fundos para pagamentos de ordenados, vencimentos e pré,
deslocando-me ao Luso, actual Luena. Para essas deslocações, não era permitido
usar transporte terrestre, mas sim a via aérea, para afastar a possibilidade de
se perderem, nalguma emboscada, os valores que transportávamos. Para o Luso,
transportava um cheque da RV/RO/QG/RMA, sobre o Banco de Angola, anexado à
relação e recibos individuais mecanografados, dos vencimentos de todo o pessoal da CArt. Assim,
para obstar à perda de valores que poderiam ocorrer numa viagem por via terrestre de mais de 300 Km , usava-se, por
imposição, a opção de via aérea, mas, imagine-se!...Num caco velho, usado na II
Guerra Mundial pelos Aliados, um avião bi-motor, de fabrico francês, de nome “NordAtlas”,
aportuguesado para “Noratlas”, que era, essencialmente, um avião de transporte de
Materiais, transporte e lançamento de tropas“Páraquedistas”. Era, portanto, um
avião sem insonorização, com armação metálica e sobre esta, a chapa metálica
exterior. Lá dentro, durante o voo, era uma barulheira desgraçada dos motores.
Quando se atravessavam os “poços de ar” em corrente descendente, o avião caía e
tínhamos a impressão de que o estômago ia sair pela boca.Chegado o aparelho às
correntes ascendentes, lá voltava para a altitude de segurança, até que
atingisse outra corrente descendente que ameaçava despenhar o avião para a floresta. Numa meia
hora de voo dávamos meia dúzia de mergulhos em direcção à terra e só respirávamos aliviados,
depois de por os pés em terra no fim da viagem.
O avião "Noratlas", vulgarmente chamado de "barriga de jinguga" |
Aqui, junto uma
fotografia do aparelho em questão que, ao ser visto na imagem não desperta
tanta insegurança como se possa pensar. E a verdade é que não aconteceu,que eu saiba, durante a guerra colonial, nenhum acidente com os velhos “Noratlas”,o que prova a perícia
e cuidado dos mecânicos da FAP, na manutenção dos velhos aviões que possuíam.
Este “post” já está a atingir os limites que me propus atingir e assim, vou
encerrá-lo, enviando cordiais saudações para todos os elementos da ex-CArt 3514 e seus familiares,
assim como para todos os que compuseram as CArts 785/BArt 786 e CArt 2396/BArt 2849 e
ainda para os eventuais visitantes deste Blogue onde quer que estejam. Para todos, vai um
abraço e um até breve do Camarada e Amigo,
Octávio Botelho
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