Desembarcados que fomos em Luanda, partimos para o Grafanil,
desta vez, não de comboio como da
primeira vez, mas em viaturas militares.
Procedeu-se à instalação do
pessoal nos alojamentos disponíveis para as praças que eram praticamente
os mesmos que já utilizáramos. Para as
praças um longo pavilhão coberto, construído em betão e com uns tabuleiros do
mesmo material, com cerca de meio metro de altura em que se colocavam colchões
de espuma de borracha e se encontravam ao longo de todo o comprimento. As
paredes laterais, não encostavam ao tecto da construção, deixando um espaço
aberto , ao longo de todo o edifício e a toda a volta, uma altura de cerca de um metro e meio, uma abertura para circulação de ar, sem
janelas de qualquer espécie . Os oficiais e os sargentos iam para Luanda para
hotéis e pensões. Havia, no entanto, para o lº.Sargento, uma caserna tipo JC,
assente numa base de cimento, construída com módulos pré-fabricados, que servia
de Secretaria e alojamento. Poucos dias lá estivemos, mas o tempo era muito bem
aproveitado, pois tínhamos que deixar na Repartição de Vencimentos do QG/RMA,
as listagens de todo o efectivo da Companhia para a introdução do mesmo no
sistema mecanográfico de vencimentos, assim como do levantamento do Fundo de Maneio da mesma, que era
importância bastante avultada e que deveria ser devolvida à Repartição de
Contas da RMA, no final da Comissão. Também tinha que se tratar da recepção de
material individual do pessoal, de munições e rações de combate para toda a
gente e que seriam usadas a partir de determinada altura da deslocação para o
local de destino da CArt. Eram uns dias
de trabalho ,bastante aborrecido, que requeria muita calma e atenção!...Mas ao
fim do dia, tínhamos a certeza de que teríamos uma tarde bem passada,com um
giro pelas esplanadas do “Pólo Norte” e do “Amazonas”, com uns “canhangulos”(*)
e uns mariscos e desfrutar de panoramas como o que a foto anexa apresenta, num
passeio pela marginal, à hora do por do sol e depois, ir a uma sessão de cinema
à esplanada do Cine Miramar, que tinha uma deslumbrante vista sobre Luanda.
Marginal de Luanda, ao por do sol |
Era
o meu cinema preferido, embora também frequentasse o antigo Restauração (Hoje,
a Assembleia Nacional de Angola) e o Tropical, para os lados da Av.Brito Godins.
Também fui algumas vezes ao Cine Império, que ficava próximo da Av.dos
Combatentes, pois a verdade era que Luanda tinha muitas e óptimas casas de Cinema. Mas voltando à
guerra, estivemos no Grafanil poucos dias, findos
os quais nos meteram em autocarros da EVA, com destino a Nova Lisboa, uma
viagem que demorava umas boas sete a oito horas e, quando ali chegámos foi-nos distribuído o armamento, ração de combate e
equipamento individual para seguirmos dali para o Luso(actual Luena),
utilizando como transporte um comboio dos CFB. Podia dizer-se que, a partir de
Nova Lisboa, por via férrea, a caminho do Leste, estávamos já a entrar em “zona
de guerra” . Chegados ao Luso,
meteram-nos num MVL composto por camiões civis, com uns taipais na caixa
de carga semelhantes aos utilizados no transporte de gado, como se pode ver na
foto que anexo.
Na foto, apenas reconheço o Fur.Monteiro |
A coluna desloca-se de norte para sul, passa pelo Lucusse, em
seguida passa pelo Lungué-Bungo, aquartelamento dum destacamento de Fuzileiros e depois pelo Lutembo, parando finalmente na margem
esquerda do Luanguinga, onde estava também um estaleiro da empresa construtora
da estrada. Umas acomodações que constavam de um quarto para o 1º.Sargento e
para mim, onde ficámos os dois instalados. Uma secretaria bastante espaçosa.
Pela minha parte, estávamos bem, pois já tinha estado em condições bem piores
noutros locais. Estávamos muito perto da margem do rio, que era muito plano e com
uma corrente não muito forte, mas por não saber nadar, nunca utilizei a praia
fluvial para esse fim. Era bastante concorrida, como se pode ver pela foto que
anexo a seguir, mas como disse, a mim nunca me atraiu.
Na imagem: Carmo, Diogo, eu e Parreira |
Este “post” está a
atingir o limite que me impus e, por isso, vou encerrá-lo enviando cordiais
saudações a todos os elementos da CArt 3514 e seus familiares, da CArt 785 e da
CArt 2396, assim como para todos os eventuais visitantes deste Blogue, onde
quer que se encontrem e se derem ao
trabalho de o ler. Para todos vai um abraço do Camarada e Amigo,
Octávio Botelho
Nota do Autor:(*)"Canhangulos" -Copos altos de cerveja, de barril, com a capacidade de 0,5 litro , também chamados "girafas".
Nota do Autor:(*)"Canhangulos" -Copos altos de cerveja, de barril, com a capacidade de 0,5 litro , também chamados "girafas".