Chegou finalmente o dia do regresso à estação inicial da nossa chegada ao Subsector do Quitexe que foi a Fazenda Liberato. Como já referi antes, foi mais um choque físico–psicológico esta mudança de instalações, mas que foi bastante atenuado, por uma filosofia que nos tornava bastante preparados para tal acontecimento com muita antecedência, prevendo já, embora envolto em muitas incertezas, o nosso regresso ao lar, pois era uma verdade incontestável que não se podiam ter muitas certezas nas circunstâncias em que nos encontrávamos. Continuou, como do antecedente, a intensa actividade operacional, no sistema já referido de Bases Tácticas, adoptado na vigência da mega operação “Determinação Permanente” e, a propósito disso estou a recordar-me de um episódio passado com o encarregado de reabastecimento do AGR/C da minha Companhia com quem tínhamos combinado o envio de uma garrafa de Brandy 1920, não com este nome, mas sob um nome de código que era o de “azeitonas”. O pedido foi feito pelo Op. de Rádio, através do PCA, uma avioneta Dornier que recebia esses pedidos e, simultaneamente dirigia os operacionais em terra, encaminhando-os para os objectivos a destruir, indicando-lhes rumos de aproximação aos mesmos.
.Nessa avioneta seguia com o piloto o oficial de operações do Batalhão que recebia pelos auscultadores os pedidos dos combatentes e os transmitia ao sargento reabastecedor para providenciar o solicitado. Feita a comunicação dos pedidos, eram reunidos os reabastecimentos na pista do aeródromo do Quitexe, metidos na Dornier ou num helicóptero que os levava até à BT e os lançava para uma clareira preparada para o efeito e a essse carregamento, nesse dia, como de costume, foi assistir o Oficial de Operações, para verificar que tudo fosse enviado sem falta alguma. Ao ver o sargento encarregado do Reab perguntou-lhe se não se tinha esquecido das azeitonas e, por causa das dúvidas, queria vê-las. O sargento ficou um tanto ou quanto baralhado, pois não tinha azeitonas nenhumas, mas sim uma garrafa de 1920, que não podia nem queria mostrar ao oficial. Pôs-se a procurar e, de repente, sai-se com uma desculpa de que as tinha preparado mas se esquecera de trazê-las. O oficial disse-lhe então que ele fosse a uma loja do comércio local comprá-las, pois não podiam faltar no Reab. Ele foi e regressou rápido com umas duas latas de um quilo de azeitonas cada uma e, de seguida a avioneta partiu para o Reab. Acho conveniente explicar que o pedido de 1920 foi feito devido a estar-se na “época de cacimbo ou seca”, em que as noites eram muito frias, devido ao denso nevoeiro saturado de humidade e as barracas, que eram abertas nos topos, não davam a necessária protecção contra o frio intenso que se fazia sentir, principalmente durante a noite.
Arranjou-se assim um produtor de calor interior para empurrar para longe o frio, mas não para nos etilizarmos, o que seria uma falta ética e regulamentar.Como dizia acima, continuaram as operações, com o mesmo sobe serra, palmilha serra e desce serra, com tal frequência que até na mata, civis nativos que estavam sob o controlo dos ML que, posteriormente, se apresentaram ao Exército e às autoridades, sabiam os nossos nomes e um desses apresentados, quando contratado como guia de operação dirigindo-se a um dos nossos graduados que era furriel miliciano, contou-lhe que em determinada data, na serra Pingano, tinha sido por ele molhado com uma valente urinadela quando se encontrava escondido a observar o avanço da operação que naquela data e local fora realizado por um AGR/C da CArt 785. Parece-me que por hoje já chega e vou terminar, enviando saudações a quem se der à paciência de ler este “post”.No próximo Capítulo continuarei com outras histórias. Até lá!...
Octávio Botelho