Viver, como vivi em Gago Coutinho, durante uns meses,
enquanto se construía o Acampamento da Colina do Nengo, era uma autêntica
pasmaceira. Tinha uma vida de rotina,
comparada quase à de um funcionário civil no seu emprego, constando quase
exclusivamente das tarefas burocrático – administrativas e pouco mais. Tinha
muito tempo livre à minha disposição que era, muitas vezes, ocupado em dar
passeios nos arredores da vila, acompanhado do meu Escriturário, António
Carrusca, dos Cabos Socorristas Elísio Soares e
do saudoso Abreu, do Cabo Pimenta, do Condutor Júlio Norte e por vezes do
falecido Vicêncio Carreira. Este era o núcleo fixo que muito poucas vezes foi
desfeito e permaneceu junto durante a maior parte do tempo de comissão no Leste
de Angola. Tínhamos muito tempo em que pelo menos eu e alguns deles ficávamos
em frente às instalações que nos serviam de Secretaria, em silêncio e a
apreciar os cenários incendiados do por-do-sol, de que anexo aqui uma
elucidativa imagem de um desses deslumbrantes espectáculos, que suponho, não existirem iguais noutras
partes do globo.
Por-do.sol em Angola |
Para os passeios,
limitavamo-nos a uma área muito próxima da vila e que não ultrapassavam a
margem esquerda do primeiro rio que se encontrava na estrada que seguia para os
lados do Nengo e Ninda e que era uma área de planície suavemente ondulada ,
cujo limite eram as margens desse rio que corria para sueste, em direcção à
Zâmbia e que eram bastante baixas, dando a percepção de que, no tempo das
chuvas, com a subida de nível das águas do rio, deviam ficar submersas, por
largo tempo, e que conservavam vestígios de que eram utilizadas pelos
autóctones como terrenos agrícolas, com características muito semelhantes às da lezíria dos rios
do continente português, situadas nos vales do Tejo, Sado e Mondego. Como já
disse algures, estes passeios eram arriscados e apesar de levarmos connosco
armas para a defesa individual eram, na
verdade um desafio que resultava de uma descontracção irresponsável de que,
felizmente, não resultaram quaisquer consequências, ,mas que não tinham quaisquer
garantias de que não viessem a suceder. Enfim, inconsciências da juventude, de que
poderiam ter saído acontecimentos indesejáveis. Até parece que estas aventuras
e o nada de grave ter acontecido, confirmavam um lema da antiguidade que dizia: “A sorte protege os audazes” e que era e é, o lema de uma elite do
Exército Português, os célebres “Comandos”, que o têm, mas na língua latina :
"Audaces fortuna juvat” e um ou outro,
querem dizer as mesmas palavras e têm a mesma conotação.
Passeio nos arredores de Gago Coutinho |
A
seguir anexo uma imagem de um desses passeios em que apareço eu, realizados na
periferia da Vila de Gago Coutinho. Quanto aos trabalhos de secretariado, era assistido
pelo meu Escriturário que, quando o trabalho apertava, eu próprio o ajudava,
assim como o Socorrista Soares e o já falecido Cabo CAR Arlindo Pais, que Deus
tenha!... Tinha uma dependência em que estava situado um gabinete para o
Comandante e outro ao lado para o 1º.Sagento, onde estava a secretária, os
arquivos e os cofres fortes da CArt, onde eram guardados os valores próprios da
mesma, como por exemplo, o “Fundo de Maneio”, valor que, no fim da comissão,
seria devolvido à Rep. de Administração e Orçamento do QG/RMA, em numerário e
em contas de Despesas da CArt, assim como o “Fundo Privativo”, de receitas
próprias da Companhia, constituído pelas receitas de vendas de Cantina e de
vendas de sobras de géneros e despesas com material de consumo corrente. No fim da Comissão se entregavam contas que eram
suportadas por este fundo, sendo o numerário remanescente entregue à
RAO/QG/RMA.
Secretaria da CArt3514 em Gago Coutinho |
Nesta altura junto uma terceira imagem do
meu local de trabalho enquanto estive em Gago Coutinho, vendo-se por trás de
mim, os dois cofres fortes e um cofre de campanha, tipo arca, fechado a
cadeado. A minha área de trabalho está muito arrumada, o que significava uma acalmia
na afluência de expediente que, frequentemente, era bastante . Havia luz eléctrica,
pois é patente a presença de um candeeiro de secretária, mas se repararem bem
vê-se também um outro meio de iluminação mais arcaico, representado por uma
vela colada a uma tampa plástica, para as emergências. Este “post” já tem uma
extensão bastante razoável e, por isso, vou ter que encerrá-lo, enviando
cordiais saudações a todos os elementos da CArt 3514 e seus familiares, para
todos os elementos da CArt 785/BArt 786 e da CArt 2396/BArt 2849 e ainda para
todos os eventuais visitantes deste Blogue que se derem à paciência de me ler,
estejam onde quer que seja. Para todos um até breve com um abraço de amizade do
Camarada e Amigo,
Octávio Botelho