Estávamos na primeira metade dos anos 70, quando a CArt 2396 terminou a sua Comissão de serviço em Cabinda. Não me recordo da data precisa da ocorrência . Só me lembro de que, em certo dia do ano de 70, chegou ao Pangamongo a Companhia que ia render a CArt 2396 que, após a entrega das instalações e materiais à nova Companhia, esteve com esta num curto período de sobreposição, de cerca de uma semana, finda qual a CArt rendida foi, num certo dia, logo após o pequeno almoço, levada para Cabinda em coluna MVL, tendo sido mandada apear no porto, sendo em seguida embarcada em duas ou três LDG’s da Armada, com destino a Luanda
Baleia cinzenta |
A viagem foi efectuada durante o dia e o estado do mar era de tal ordem, que mais parecia um sereno lago do que o mal afamado Oceano Atlântico. A meio de percurso, uma baleia cinzenta, começou a acompanhar por bombordo a uma distância de cerca de vinte a vinte e cinco metros, numa rota paralela à da LDG, porporcionando-nos, durante uma boa meia hora, um fabuloso espectáculo de saltos. Junto aqui uma imagem que poderá dar uma ideia de um animal, medindo uns quinze a dezoito metros de comprimento e pesando umas boas oitenta toneladas. A verdade é que foi a minha primeira oportunidade que tive de tomar parte numa actividade chamada “whale-watching” hoje muito vulgar na minha terra e de que, naquela altura, ainda se não pensava. Findo o percurso, na ilha de Luanda, onde estava o porto da Armada, tínhamos à nossa espera as viaturas Berliet do Campo Militar do Grafanil que, para lá nos transportaram. Seguiu-se a instalação do pessoal e no dia seguinte, iniciaram-se os trabalhos de liquidação da Companhia, tendo que se colocar nos jornais diários avisos de que a CArt 2396 estava em Liquidatária. Nesse mesmo dia, chegou de Nova Lisboa o 2º.Sarg.Costa, que eu estivera a substituir nas funções de 1º.Sargento que, conforme prometera , veio ajudar-nos na liquidação da Companhia, que era bastante trabalhosa. Com nós os dois a fazermos os trabalhos a coisa andou bastante bem e depressa, até que chegou o dia em pagámos os últimos vencimentos e pré aos Oficiais, Sargentos e Praças, até à data do embarque.
Desfile no Juramento de Bandeira 2º.Turno/70 |
.No entanto, não regressei à minha Unidade em Nova Lisboa, onde iria terminar a.minha Comissão, que só terminaria depois dos meados de 70, pois não me deram a quitação final, sem que a CArt 2396 estivesse em voo no avião “Boeing 707, dos TAM, a caminho de Lisboa. Nesta ocasião, incluo uma imagem da vida da Unidade em que passei a prestar serviço. Chamava-se GAC/Nova Lisboa e como é visível na imagem, poder-se-ia pensar que se estava numa Unidade metropolitana, pois tinha exactamente o mesmo tipo de actividades de uma Unidade habitual, com as suas Incorporações, ER, Juramentos de Bandeira e Escola de Cabos. Até o meu serviço ali era idêntico e na mesma Secção em que trabalhava na minha Unidade nos Açores: A Secretaria de Mobilização . Aqui, coloco a imagem de um desfile de tropas num Juramento de Bandeira, de um dos turnos de incorporação de 1970. E repare-se no anacronismo verificado no armamento individual dos militares, pois as armas que levam ao ombro são Espingardas Mauser 7,9 mm m/37-A, que como se sabe são armas de repetição. Para eles, a G-3, era uma arma que só lhes servia para estudo e nada mais . As G-3 eram para a guerra a sério e não para paradas e desfiles. E isto era assim, não só em Nova Lisboa, mas em todas as Unidades da Guarnição Normal de Angola, que não eram poucas.
O meu quarto na pensão |
Para mim, passei de novo a ter quarto alugado em pensão, pois em Nova Lisboa as Unidades não davam alojamento aos oficiais e Sargentos. Aqui coloco uma outra imagem documentando o que afirmo. Nova Lisboa era uma cidade rica em monumentos e aqui anexo uma outra imagem da praça Norton de Matos, com uma estátua do mesmo, cercado por quatro figuras alegóricas, representando as quatro virtudes cardiais: A Prudência, a Justiça, a Fortaleza e a Temperança. Hoje neste mesmo local está colocada uma estátua a Agostinho Neto e a estátua de Norton de Matos está actualmente encostada a um muro, ladeado da suas quatro companheiras, quase parecendo que irá ser fuzilado, juntamente com as parceiras.
Monumento a Norton de Matos em Nova Lisboa |
No entanto, sabe-se que o homenageado era idolatrado pela população de Nova Lisboa, quer fossem europeus ou autóctones. Bem, apesar de tudo, mantém-se em exposição pública e não armazenado como estão muitas figuras da estatuária deixada pelos portugueses em Luanda. Este já está a ficar um pouco extenso e vou, por isso, terminá-lo, enviando cordiais saudações e votos de Páscoa Feliz, a todos os elementos das CArt 2396, CArt 785 e CArt 3514, assim como para os seus familiares e para os eventuais visitantes que se derem à paciência de me ler, estejam onde estiverem. Para todos vai um abraço de amizade, com um até breve, do camarada e Amigo,
Octávio Botelho