Síntese biográfica do meu percurso em África durante a Guerra Colonial o0o Mobilizado como Furriel do QP, de 1965 a 1967 integrado na CArt 785/BArt786 formado no RAP-2, para prestar serviço na RMA – Angola, no Sub-Sector do Quitexe , Sector de Carmona, destacado na Fazenda Liberato, Fazenda S. Isabel e novamente Fazenda Liberato de onde regressei á Metrópole o0o Mobilizado como 2º Sarg. de 1968 a 1970, em rendição individual para RMA- Angola e colocado no GAC/NL em Nova Lisboa , Huambo, mais tarde transferido por troca, para Dinge em Cabinda integrado na CArt 2396/BArt 2849, formado no RAL.5, regressei no final da comissão a Nova Lisboa de onde parti para Lisboa, a bordo do paquete Vera Cruz onde viajei também na primeira comissão o0o Mobilizado como 1º Sarg. de 1972 a 1974 integrado na Cart3514, formada no RAL.3, para prestar serviço na RMA- Angola , no Sub-Sector de Gago Coutinho (Lumbala Nguimbo) província do Moxico, onde cumprimos 28 meses, em missão de protecção aos trabalhos de construção da “Grande Via do Leste” num troço da estrada Luso – Gago Coutinho – Neriquinha – Luiana. Regressei em 1974, alguns meses depois de Abril 1974, tal como na viagem de ida, a bordo dum Boeing 707 dos TAM,.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Capº.X -Exposição de antiguidades das F.Armadas

Desde o princípio dos trabalhos que me propus realizar  ao iniciar estas Crónicas, me considerei como uma das pessoas menos qualificadas para os realizar, uma vez que em apenas uma das minhas comissões, a primeira, fui empenhado em missões de combate propriamente ditas. Nas restantes duas Comissões, embora tenham sido consideradas missões de guerra, não o foram de combate real, pois as minhas missões foram essencialmente preenchidas com funções administrativas, que para efeitos de historial, não se prestam muito ao preenchimento de umas Crónicas dignas de tal nome. Não ocorrem quaisquer episódios que dêem boas histórias , pois o trabalho em que estamos ocupados não se presta para elas e, poderá suceder, como agora, que me veja com pouco ou nenhum assunto para ocupar este “post” que estou a tentar levar a bom termo. Assim, e como último recurso, vou debruçar-se sobre a  antiguidade  dos materiais de que estávamos equipados para a temática ofensiva e defensiva que era primordial para o bom cumprimento da nossa missão nos territórios da ex-colónia portuguesa de Angola. 
Metralhadora Pesada Breda 7,9 mm m/38
Para começar, vou integrar a seguir uma imagem de uma arma de origem italiana e que, ao tempo, já tinha uma respeitável idade, pois tinha nascido em 1938 tendo, para uma arma, uma respeitável duração de 34 anos, portanto, já tinha sido estrela na II Guerra Mundial  e, embora assim fosse, desempenhava muito bem e sem falhar, a sua mortífera missão , com poucas ou raras avarias mecânicas. Material velho, mas de excelente eficiência. Havia uma outra estrela de antiguidade, mas com uma elevada e eficiente “performance”, desta vez, no ramo auto. Só tinha um defeito: a sua suspensão era de uma rigidez insuportável e, em viagens longas e por caminhos acidentados, deixava os pobres passageiros com dores insuportáveis em todo o corpo, mas principalmente e pior na coluna dorsal, que ficava como que desfeita com os solavancos que lhe eram propinados.     
Jeep Willys m/940
 Anexo aqui e agora uma imagem dessa estrela, de origem americana, nascida por volta dos anos 30-4l, sendo largamente utilizado pelas forças Aliadas, durante a II Guerra Mundial. Após ter sofrido algumas alterações, surgiu com as formas e modelos idênticos ao da imagem anexa. Prosseguindo agora, quero apresentar mais uma estrela , mas desta vez, no ramo Aeronáutico . Trata-se do famoso avião de caça T6 Harvard, que foi criado em 1941 nos EUA e usado como avião de treino para os pilotos das USAF, USNavy e RAF, até 1950.Vieram para Portugal em 1947 e 1950, sendo utilizados também como aviões de treino para os pilotos da FAP. Foram utilizados na Guerra Colonial e abatidos ao efectivo em 1978. Podem ainda ser vistos no Museu do Ar em Alverca e pode-se ainda voar neles.  Anexo a seguir uma imagem do aparelho em questão.     
Avião caça T6 Harvard
.Prosseguindo na exposição das antiguidades das Forças Armadas em Angola em geral e em Gago Coutinho, em particular, cabe agora a vez a outra antiguidade, esta a campeã de todas as antiguidades citadas acima. Trata-se da avioneta DO 27. Foi esta marca criada na Itália em 1922, num estaleiro de construção de hidroaviões, tendo ali sido construído o maior avião comercial antes da II Guerra Mundial e, durante esta foram construídos vários modelos do mesmo avião, praticamente até aos dias de hoje.   
Avioneta DO 27, da FAP
A seguir junto uma imagem do aparelho da FAP de nome DO 27, que era utilizado em muitas missões, nomeadamente as de PCA(Posto de Comando Aéreo), avião de reconhecimento, avião de reabastecimentos, transporte de correio em zonas inacessíveis e muitas outras que agora me não ocorrem. Este “post”, fugiu à regra do tema, mas disso já expliquei as razões acima. Também já atingiu o tamanho habitual e, por isso, vou encerrá-lo, enviando cordiais saudações a todos os elementos da CArt 3514 e familiares, da CArt 785/BArt 786 e da CArt 2396/BArt 2849, assim como para todos os eventuais visitantes deste blogue, onde quer que estejam. Para todos um abraço, com um até breve, do amigo e Camarada,
Octávio Botelho

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Capº.IX - Memórias dispersas do Leste de Angola

Nesta época e neste mês em especial e há cerca de 40 anos, continuava a CArt 3514 com o seu comando sedeado em Gago Coutinho e, como já referi em “post” anterior, a vida era como de costume, bastante rotineira, limitando-se a nossa missão aos serviços burocrático-administrativos, que surgiam por fases, sucedendo que tínhamos, no nosso trabalho, ora épocas “em cheio” , alternadas com épocas “de vazio” e,  nesses períodos de pouco que fazer, tentávamos, dentro de possível passá-los da melhor maneira e dentro das possibilidades. Na minha equipa de trabalhos tinha excelentes colaboradores, sendo que o primeiro entre todos era, sem sombra de dúvidas, o meu eficiente e desembaraçado Cabo Escriturário António Carrusca e sempre que havia um intervalo de tempo livre, lá dávamos uma saltada a casa dos nossos vizinhos da FAP, para uma visita ao Bar deles, para se emborcarem umas cervejas, mas sem se abusar, pois que muitas vezes, depois dessas libações, tínhamos que prosseguir o trabalho no qual se tinha feito uma pausa para descontrair. Também não quero  esquecer  que o Cabo Socorrista Elísio Soares,  também dava uma preciosa ajuda nos trabalhos de dactilografia quando este serviço apertava e, até eu, se necessário e não houvesse outra ajuda alinhava em trabalho de dactilógrafo, não me tendo, por isso, caído dos ombros os distintivos hierárquicos.  
Botelho,o autor,"barman" da FAP e Cabo Escritº.Carrusca, em Gago Coutinho
em 1972
Para ilustrar um desses intervalos realizados no Bar da FAP, junto, a seguir uma imagem elucidativa, captada no citado local, e nela figuro eu, o “barman”, militar da FAP e o que era, ao tempo, o meu eficiente Escriturário. É uma imagem que acentua de forma flagrante a diferença abismal que existe nas nossas aparências físicas daquele tempo para as da época actual, mas a verdade é que esse facto é decorrente de um processo irrevogavelmente natural  e estamos sempre bem, seja em que tempo e modo for. E assim, decorria a nossa vida sendo passada da melhor maneira possível, aproveitando-se as oportunidades para distrairmo-nos da pasmaceira em que se vivia,implantados no meio de nenhures, não deixando para trás qualquer possibilidade de fazer por esquecer a nossa situação de prisioneiros em liberdade, pois para mim era esta a melhor definição da situação  a que estávamos todos, sem excepção, sujeitos.     
Da Esqª.para a dtª.: Fur.Carvalho, Cabo Pinto, Cabo Freitas, Emilio Pires, Melo, Fur.A.Sousa, soldados Castro e Caetano, no Bar Castro, vulgo,"Mete Lenha", em G.Coutinho em 1972. Ao centro e atrás, Botelho, o autor.
A seguir, adiciono uma outra imagem, esta tirada um pouco antes da anterior, pois recordo-me que foi tirada quando estávamos em Luanguinga e que suponho, deva ter um significado especial para primeiro figurante da esquerda, cuja apresentação faz lembrar a de um célebre careca, actor de cinema, que se chamava Yul Breynner , mas que, se não estou enganado foi originada na “carecada” que lhe foi dada pelo Comandante ou 2º.Comandante do BCAv 3862 “Cavalo Branco”.A imagem deve ter sido captada em 1972, no único Bar-Restaurante existente na vila, cujo proprietário se chamava Castro e que era vulgarmente conhecido como “O Mete Lenha”. Figuram na imagem, para além do Fur.Carvalho, um condutor, o Cabo Freitas “Padeiro”, outros dois condutores, o Fur.Arlindo Sousa, os Soldados Castro e Caetano. Ao centro e por de trás, estou eu. 
Cabo Socorrista Elísio Soares, junto à Igreja da Missão de São Bonifácio,
em Gago Coutinho em 1972/73
A seguir, incluo uma imagem do Cabo Socorrista Elísio Soares que, como referi há pouco, foi um empenhado auxiliar nos serviços de dactilografia da Secretaria, sempre que o serviço apertava e se encontrasse na sede. Sempre animado de vontade de ajudar, foi o Cabo Elísio Soares, um prestimoso auxiliar em serviços de secretariado que, embora não sendo da sua especialidade, desempenhou de forma impecável competente e conscienciosa. Embora tardiamente, aqui estou para agradecer-lhe a prestimosa colaboração que dedicou a um trabalho extra e que não era de sua obrigação fazer. A foto inserida,  mostra o Cabo Socorrista Soares, numa pose que revela a sua faceta de pessoa voluntariosa e ciente de que sabe o que quer e para onde ir.O local, é a Igreja da Missão de São Bonifácio, à data de 1972/73, de que hoje apenas existem ruínas provocadas por um derrotado Movimento de Libertação que  achou que o edifício sagrado podia ser utilizado contra eles como instalação “defensiva” ou“ofensiva” militar. Na minha opinião, uma opção errada, mas  este é um caso que  “aqui” e “agora”, não é de debater. Este”post” já atingiu a extensão que lhe tinha fixado e, por isso, vou encerrá-lo,  enviando cordiais saudações a todos os elementos da ex-CArt 3514 e familiares, da CArt 785/BArt 786 e da CArt 2396/BArt 2849, assim como para todos os visitantes deste Blogue, onde quer que estejam e se dêm à paciência de me ler. Para todos um até breve, com um abraço do Camarada e Amigo,
Octávio Botelho

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Capº.VIII - Permanência em Gago Coutinho

Situo a narrativa deste Capítulo, na antiga Vila de Gago Coutinho, actualmente conhecida pelo nome de Lumbala Nguimbo, onde a vida, para mim, era de uma monotonia desesperadora. Tal condição fazia com que tentássemos passar o tempo da melhor maneira possível, aventurando-nos em passeios pelas redondezas da vila que não era, em realidade muito extensa, uma vez que a sua área urbanizada mais compacta, correspondia aproximadamente a quarenta hectares e meio. Era  e é uma vila situada no meio de nenhures, sem povoações vizinhas próximas, a não ser as típicas sanzalas indígenas que, ao tempo, rodeavam a povoação por quase todos os lados. Das casas dos europeus, não tenho qualquer imagem, pois as mesmas  em si, se revelavam pouco interessantes pois eram cópias fiéis das casas que tinham na Europa e não tinham na sua construção ou estilo qualquer exotismo que despertasse interesse. Outro tanto já não posso dizer das habitações indígenas que, a par do exotismo da sua construção(madeira, nas estruturas e colmo(capim), nas  paredes e tectos) que são típicas daquela região.  
O autor numa
sanzala em GagoCoutinho
Anexo aqui uma imagem dumas dessas casas(cubatas), que mesmo com a pobreza dos materiais à sua disposição, já tentam uma imitação dos europeus, construindo em anexo à sua cubata, um alpendre com uma espreguiçadeira, feita de aduelas de barril, para fazerem as suas sestas à sombra, fora dos raios ardentes do sol. Pela minha parte, achava e acho ainda muito bem , que os autóctones tenham e gozem das suas comodidades. Tinham também uma bonita igreja, situada na periferia de um arvoredo, por de trás do qual se encontrava e encontra ainda hoje a Missão Católica de São Bonifácio, atribuída a uma Comunidade de Irmãs que têm variadíssimas missões de carácter religioso, escolar e social em benefício das populações locais. Da linda igreja que lá deixámos, hoje, infelizmente, apenas restam ruínas e como lembrança do edifício sagrado desaparecido, anexo, a seguir, uma imagem do mesmo tal como era outrora.
Igreja da Missão de S.Bonifácio, em Gago Coutinho, em 1974
Voltando a falar do estilo de vida naquela vila, era certo que mensalmente e por motivos administrativos tinha de ir levantar fundos para pagamentos de ordenados, vencimentos e pré, deslocando-me ao Luso, actual Luena. Para essas deslocações, não era permitido usar transporte terrestre, mas sim a via aérea, para afastar a possibilidade de se perderem, nalguma emboscada, os valores que transportávamos. Para o Luso, transportava um cheque da RV/RO/QG/RMA, sobre o Banco de Angola, anexado à relação  e recibos individuais mecanografados, dos vencimentos de todo o pessoal da CArt. Assim, para obstar à perda de valores que poderiam ocorrer numa viagem por via terrestre de mais de 300 Km, usava-se, por imposição, a opção de via aérea, mas, imagine-se!...Num caco velho, usado na II Guerra Mundial pelos Aliados, um avião bi-motor, de fabrico francês, de nome “NordAtlas”, aportuguesado para “Noratlas”, que era, essencialmente, um avião de transporte de Materiais, transporte e lançamento  de tropas“Páraquedistas”. Era, portanto, um avião sem insonorização, com armação metálica e sobre esta, a chapa metálica exterior. Lá dentro, durante o voo, era uma barulheira desgraçada dos motores. Quando se atravessavam os “poços de ar” em corrente descendente, o avião caía e tínhamos a impressão de que o estômago ia sair pela boca.Chegado o aparelho às correntes ascendentes, lá voltava  para a altitude de segurança, até que atingisse outra corrente descendente que ameaçava despenhar o avião para a floresta. Numa meia hora de voo dávamos meia dúzia de mergulhos em direcção à terra e só respirávamos aliviados, depois de por os pés em terra no fim da viagem.  
O avião "Noratlas", vulgarmente chamado de "barriga de jinguga"
Aqui, junto uma fotografia do aparelho em questão que, ao ser visto na imagem não desperta tanta insegurança como se possa pensar. E a verdade é que não aconteceu,que eu saiba, durante a guerra colonial,  nenhum acidente com os velhos “Noratlas”,o que prova a perícia e cuidado dos mecânicos da FAP, na manutenção dos velhos aviões que possuíam. Este “post” já está a atingir os limites que me propus atingir e assim, vou encerrá-lo, enviando cordiais saudações para todos os  elementos da ex-CArt 3514 e seus familiares, assim como para todos os que compuseram as CArts 785/BArt 786 e CArt 2396/BArt 2849 e ainda para os eventuais visitantes deste Blogue onde quer que estejam. Para todos, vai um abraço e um até breve do Camarada e Amigo,
Octávio Botelho

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Capº.VII - A vida em Gago Coutinho

Viver, como vivi em Gago Coutinho, durante uns meses, enquanto se construía o Acampamento da Colina do Nengo, era uma autêntica pasmaceira. Tinha uma vida de  rotina, comparada quase à de um funcionário civil no seu emprego, constando quase exclusivamente das tarefas burocrático – administrativas e pouco mais. Tinha muito tempo livre à minha disposição que era, muitas vezes, ocupado em dar passeios nos arredores da vila, acompanhado do meu Escriturário, António Carrusca, dos Cabos Socorristas Elísio Soares e  do saudoso Abreu, do Cabo Pimenta, do Condutor Júlio Norte e por vezes do falecido Vicêncio Carreira. Este era o núcleo fixo que muito poucas vezes foi desfeito e permaneceu junto durante a maior parte do tempo de comissão no Leste de Angola. Tínhamos muito tempo em que pelo menos eu e alguns deles ficávamos em frente às instalações que nos serviam de Secretaria, em silêncio e a apreciar os cenários incendiados do por-do-sol, de que anexo aqui uma elucidativa imagem de um desses deslumbrantes espectáculos,  que suponho, não existirem iguais noutras partes do globo.     
Por-do.sol em Angola
Para os passeios, limitavamo-nos a uma área muito próxima da vila e que não ultrapassavam a margem esquerda do primeiro rio que se encontrava na estrada que seguia para os lados do Nengo e Ninda e que era uma área de planície suavemente ondulada , cujo limite eram as margens desse rio que corria para sueste, em direcção à Zâmbia e que eram bastante baixas, dando a percepção de que, no tempo das chuvas, com a subida de nível das águas do rio, deviam ficar submersas, por largo tempo, e que conservavam vestígios de que eram utilizadas pelos autóctones como terrenos agrícolas, com características muito semelhantes às da lezíria dos rios do continente português, situadas nos vales do Tejo, Sado e Mondego. Como já disse algures, estes passeios eram arriscados e apesar de levarmos connosco armas para a defesa individual eram,  na verdade um desafio que resultava de uma descontracção irresponsável de que, felizmente, não resultaram quaisquer consequências, ,mas que não tinham quaisquer garantias de que não viessem a suceder. Enfim, inconsciências da juventude, de que poderiam ter saído acontecimentos indesejáveis. Até parece que estas aventuras e o nada de grave ter acontecido, confirmavam um lema da antiguidade  que dizia: “A sorte  protege os audazes”  e que era e é, o lema de uma elite do Exército Português, os célebres “Comandos”, que o têm, mas na língua latina : "Audaces fortuna juvat” e  um ou outro, querem dizer as mesmas palavras e têm a mesma conotação.  
Passeio nos arredores de Gago Coutinho
 A seguir anexo uma imagem de um desses passeios em que apareço eu, realizados na periferia da Vila de Gago Coutinho. Quanto aos trabalhos de secretariado, era assistido pelo meu Escriturário que, quando o trabalho apertava, eu próprio o ajudava, assim como o Socorrista Soares e o já falecido Cabo CAR Arlindo Pais, que Deus tenha!... Tinha uma dependência em que estava situado um gabinete para o Comandante e outro ao lado para o 1º.Sagento, onde estava a secretária, os arquivos e os cofres fortes da CArt, onde eram guardados os valores próprios da mesma, como por exemplo, o “Fundo de Maneio”, valor que, no fim da comissão, seria devolvido à Rep. de Administração e Orçamento do QG/RMA, em numerário e em contas de Despesas da CArt, assim como o “Fundo Privativo”, de receitas próprias da Companhia, constituído pelas receitas de vendas de Cantina e de vendas de sobras de géneros e despesas com material de consumo corrente.  No fim da Comissão se entregavam contas que eram suportadas por este fundo, sendo o numerário remanescente entregue à RAO/QG/RMA.  
Secretaria da CArt3514 em Gago Coutinho
 Nesta altura junto uma terceira imagem do meu local de trabalho enquanto estive em Gago Coutinho, vendo-se por trás de mim, os dois cofres fortes e um cofre de campanha, tipo arca, fechado a cadeado. A minha área de trabalho está muito arrumada, o que significava uma acalmia na afluência de expediente que, frequentemente, era bastante . Havia luz eléctrica, pois é patente a presença de um candeeiro de secretária, mas se repararem bem vê-se também um outro meio de iluminação mais arcaico, representado por uma vela colada a uma tampa plástica, para as emergências. Este “post” já tem uma extensão bastante razoável e, por isso, vou ter que encerrá-lo, enviando cordiais saudações a todos os elementos da CArt 3514 e seus familiares, para todos os elementos da CArt 785/BArt 786 e da CArt 2396/BArt 2849 e ainda para todos os eventuais visitantes deste Blogue que se derem à paciência de me ler, estejam onde quer que seja. Para todos um até breve com um abraço de amizade do Camarada e Amigo,
Octávio Botelho

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Capº. VI - Desfile de Recordações

Permaneceu o Comando da CArt 3514 no Quartel de Gago Coutinho, naquela altura ocupado pelo Batalhão de Cavalaria Nº.3862 “Cavalo Branco”, até depois do Natal do  ano de  1972, mudando para o Acampamento do Nengo, que se encontrava ainda em fase de acabamentos da sua construção, por uma equipa de militares da Companhia, chefiada pelo nosso Camarada, Furriel Milº.António Manuel Melo Soares, que dirigiu magistralmente, essa equipa de construção expedita, em que foram utilizados materiais fornecidos pela natureza ambiente, em madeiras para as estruturas básicas. Foi conseguido pelo Comando o necessário cimento para a base e as chapas de zinco onduladas para os telhados. Quanto às paredes  laterais foram construída de chapas de bidões de alcatrão, depois de devidamente cortadas, alisadas e endireitadas sob os cilindros.
Equipa de Construção do Nengo
Insiro a seguir uma foto de alguns elementos dessa equipa, imagem que documenta o duro trabalho a que foi submetida para realizar a pesada missão que lhe foi atribuída e que muito contribuiu para que o Comando e as suas dependências, assim como os Oficiais e Sargentos e algumas Praças tivessem, dentro do possível, ao seu dispor as razoáveis instalações que usufruíram durante toda a sua restante Comissão. Foi um trabalho de bastante mérito, que muito contribuiu para as boas condições de vida para todos os elementos da CArt 3514, em especial para a parte Logística. Só foi pena que tal se não pudesse estender a todo o pessoal que teve de viver nas tendas de lona cónicas.  Mas a verdade é que tal seria impossível de concretizar.  As  armações e estruturas básicas foram construídas com madeiras abundantes na natureza ambiente, com excepção para as bases que seriam em cimento e os telhados que seriam em chapa de zinco ondulada. Quanto às paredes laterais, foram construídas com chapas de bidões de alcatrão, cortadas à talhadeira e à marreta, sendo depois “passadas a ferro” pelos cilindros  e depois aplicadas e pregadas às estruturas de madeira, até ao nível do telhado. E, como o local, na época quente ou do cacimbo, era batido impiedosamente pelos raios solares, foi colocada sobre os telhados, uma grossa camada de capim, assim como pelas partes laterais do tecto ao chão foi colocada uma antepara de madeira coberta com capim, para que os alojamentos se não transformassem em fornos e ficássemos assados lá dentro. Assim as instalações eram frescas mesmo com o sol mais forte e também mais quentes e confortáveis no tempo mais frio. Também o isolamento dos telhados com o colmo, silenciava o tamborilar da chuva quando esta caía a potes durante a sua época própria.  Eram também instalações seguras quanto a queda de raios durante as trovoadas, funcionando como autênticas “gaiolas de Faraday”pois os seus componentes metálicos conduziam para a “terra” toda  a carga electrica que as percorresse, não atingindo assim o que quer que estivesse no seu interior. E, a propósito de trovoadas,  cheguei a assistir a algumas em que se queimaram uma quantidade enorme de rádios transístores com que mantínhamos ligação como mundo exterior, assim como os rádios das transmissões que ficaram inoperacionais por alguns dias. Estávamos muitas vezes no meio duma imensidão de paisagem , com trovoadas em nossa volta  numa amplitude de 360º, acompanhadas de chuvas  diluvianas que, por uma vez, afogaram um morteiro de 81mm que estava instalado do seu espaldão, tendo sido socorrido, não só pelo pessoal especializado em Armas Pesadas, mas também pelo responsável das Trms, com algum pessoal a assistir em volta com muita curiosidade.
Na imagem: Cmdt.,eu, atrás dele,Sold.Trms.Monteiro, Fur.Parreira, Ribeiro(Cripto), Cabo Pimenta e Fur.Diogo.
No lº.plano, Fur.Silva e atrás deste, o Fur.Medeiros
Anexo aqui uma imagem dessa ocorrência para memória futura. Nela figuram, da esquerda para a direita, o Comandante da CArt 3514, Cap.Milº.Crisóstomo dos Santos, por trás dele, meio escondido, estou eu; segurando o morteiro 81, está o Sold.Trms., Monteiro ; a seguir, o Fur.Milº.Parreira, o Ribeiro “Cripto” e a seguir o Fur.Milº.Diogo, o Vagomestre. O que está curvado, à frente do Ribeiro é o 1º.Cabo Pimenta. No primeiro plano, está o Fur.Milº.”Armas Pesadas” Cardoso da Silva e por detrás deste está, meio escondido, o Fur. Milº.Trms, Medeiros, a prestar uma ajuda na recuperação do morteiro que ficou “afogado” no seu espaldão. Acho que este “post”já atingiu a extensão ideal, pelo que vou encerrá-lo, enviando cordiais saudações a todos os elementos da CArt 3514 e seus familiares, aos da CArt 785/BArt786 e CArt 2396/BArt 2849, e bem assim para todos os eventuais visitantes deste Blogue que se derem ao trabalho de me ler. Para todos um até breve com um abraço do Camarada e Amigo,
Octávio Botelho