Estava eu na minha Unidade nos Açores há pouco mais de um
ano quando chegou à Secretaria a fatal nota do Estado-Maior do Exército, a
nomear-me para mais uma Comissão. Uma péssima novidade para mim e para os meus
familiares e com apenas uma coisa boa. A comissão para que estava nomeado era
novamente para Angola, uma terra que já não era totalmente desconhecida. Tinha
também a particularidade de estar nomeado para integrar os efectivos de uma
Companhia Independente, a CArt 3514, também conhecida pelos “Panteras Negras”,
cuja Unidade Mobilizadora era o RAL-3, sedeado em Évora.
Crachá da CArt 3514"Panteras Negras" |
Anexo aqui uma imagem
do Crachá dessa minha Compamhia. Por
volta dos fins de Outubro chegou o dia da minha partida para a Metrópole e lá fui com a
minha parca bagagem, que eram duas simples malas de camarote e um pequeno saco,
acompanhado dos meus familiares até ao porto de Ponta Delgada, tendo embarcado
no navio “Angra do Heroísmo” , com destino a Lisboa, onde tinha que me
apresentar no DGA, na Calçada d’Ajuda, para me ser conferida requisição de
transporte de comboio, da Estação Fluvial do Terreiro do Paço para o Barreiro e depois para Évora. Cheguei
lá, e da minha futura Companhia ainda pouca gente existia: Não havia praças,
nem sargentos e de oficiais apenas lá se encontravam o Comandante , os
Aspirantes, futuros alferes Cmdts de GC, o1º.Sargento e mais
ninguém. Depois, foram chegando os
Cabos Milicianos, futuros Furrs. Cmdts. de Secção, os atiradores e, por
fim, os especialistas: condutores, mecânicos
auto e de Armas Pesadas, socorristas, cozinheiros, Transmissões de Infª.,
Radiotelegrafistas, Escriturário, etc., etc..
Soube que houve uma tentativa de me desviar para uma outra Companhia,
fazendo uma troca com um outro sargento das outras duas CArts, sob o pretexto
de que os açorianos eram “mulas manhosas” e que eu estaria melhor noutra
Companhia, que não a CArt 3514. Mas parece que a proposta não foi aceite pelo
Comando , que teve o bom senso de não aceitá-la, tendo como que uma
previsão do que viria a suceder mais tarde em que se viria a verificar que “ a
pedra que os construtores rejeitaram, se tornou a pedra angular”. Enfim, coisas
passadas que, assim como as águas passadas, não fazem mover as azenhas. Depois
de estar reunido no RAL-3 todo o pessoal dos efectivos da CArt 3514, iniciou-se
a IE e por fim a IAO, numa zona dos arredores de Évora, chamada Valverde, nas proximidades de
uma Herdade que lá havia. Nunca fui integrado no meu GC nesses exercícios, pois
desde a minha chegada, fui ligado às funções de auxiliar do 1º.Sargento e apenas me
desloquei ao Acampamento uma ou duas vezes em missões de logística, acompanhando o Sargento de
Alimentação.
IAO-Valverde-Évora. Na foto,em cima:Arlindo Sousa, Barros,Monteiro,Marques,Raul Sousa e Ramalhosa;Em baixo.Carvalho,Duarte,Pereira, Soares e Medeiros |
Aqui, anexo uma foto tirada durante a IAO em que estão representados alguns dos futuros fur.milºs. Em
cima, Arlindo Sousa, Barros, Monteiro, Marques, Raul Sousa e Ramalhosa; em
baixo: Carvalho, Duarte, Pereira, Soares e Medeiros. (Esta foto já é de todos
conhecida, pois fui sacá-la ao Blogue da CArt 3514”Panteras Negras”e, se tiver
de pagar “Copyright” por isso não se
acanhem !...) ;) Em Dezembro de 71, fui eu
até aos Açores, passar o Natal, com a licença das Normas(licença de
Mobilização), finda a qual regressei a Évora. Decorreu entre esta época e a
Páscoa de 72 a
instrução de Especialidades e IAO, com exercícios Finais e no Domingo de Páscoa
tivemos a Parada para a entrega do Galhardete e Desfile de despedida e de
seguida partimos de Évora para o Aeroporto Militar de Figo Maduro tendo , cerca da meia-noite, embarcando a bordo de um
avião Boeing 707 dos TAM, com destino a Luanda, aonde chegámos após 9 horas de
voo e que foi assim tão prolongado porque os países africanos que ficavam
debaixo da rota directa e mais curta, não autorizavam a passagem de aeronaves
portuguesas transportando militares para a guerra Colonial, o que obrigava a
que a rota sobrevoasse ao largo de
África sobre águas internacionais, aumentando assim a extensão do percurso
entre Lisboa e Luanda. Desembarcámos em Luanda, cerca das 09H00, com uma
temperatura ambiente muito razoável, seguindo de imediato para o Grafanil, como
era de necessária e indispensável tradição, para mim já repetida, mas inédita
para o restante pessoal da Companhia.
Capela do Embondeiro, no CM do Grafanil, dedicada a Nª.Srª.de Fátima |
Introduzo aqui uma imagem do
Campo Militar do Grafanil, que é considerada como um “ex-libris” daquela área.
Por agora vou encerrar este “post” enviando cordiais saudações para todos os elementos da CArt
3514 e seus familiares, da CArt 785 e da CArt 2396, assim como para todos os
eventuais visitantes deste Blogue, onde quer que se encontrem e se derem à paciência de o ler. Para
todos, um até breve e um abraço do Camarada e Amigo,
Octávio Botelho