Perto do fim do ano de 1965, ocorreu um facto transcendente na vida da CArt 785 e que consistiu na sua transferência da Fazenda Liberato para a Fazenda Santa Isabel. Este acontecimento teve efeitos muito benéficos para o nosso pessoal ( que fora inicialmente colocado no “pior” de todos os aquartelamentos que foram postos à disposição dos efectivos do BArt 786), pois constava ,muito simplesmente, numa melhoria radical nos percursos de acesso mais curto e com melhores condições de trânsito em qualquer época do ano, assim como nas acomodações para todo o pessoal, sem distinção(Oficiais, sargentos e Praças) e melhor e mais rápido acesso quer à sede do Batalhão, do Sector e até ainda a Luanda. Para o nosso “paraíso” abandonado, vieram fixar-se os efectivos da CArt 784, até ali aquartelados na que era, desde então, a nossa residência no sub-sector do Quitexe. Para fazermos uma melhor ideia das excelentes condições de acesso ao exterior, enquanto a picada Aldeia Viçosa- Liberato, tinha uma distância muito próxima dos cinquenta quilómetros, num percurso que, na época chuvosa, demorava a fazer umas quase 5 horas, pois era um percurso com fraca drenagem das águas, o que provocava a formação de enormes lamaçais em diversas baixas em que se enterravam as viaturas, tendo-se que recorrer aos guinchos que algumas possuíam para as desatascar e, se não possuíssem tal meio, teriam que ser socorridas por outras que os possuíam.
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Em todas estas manobras se perdiam horas sem fim. Era este o maior inconveniente do acesso ao Liberato, acrescido pelo facto de termos de atravessar dois maciços de mata cuja ramagem descaía sobre as laterais da estrada e a que o pessoal tranportado tinha que dar muita atenção, sob pena de ser derrubado e ficar debaixo de algum rodado. Na nova colocação, a picada que ia desta à estrada para o Quitexe- Luanda, tinha uns meros 20 quilómetros de uma picada que raramente apresentava um pouco de lama, o que se resolvia com o engate das “redutoras” e da “tracção às 4 rodas” e sem surgirem problemas de maior. Tinha ainda a vantagem de ter bastante perto uma outra fazenda que se chamava Fazenda Vamba, que ficava mais internada no vale do rio com o mesmo nome e que tinha um destacamento a nível de Secção, pertencente à CArt 785. Escusado será dizer que, nos aspectos de alojamento, a ida para Stª.Isabel representou uma mudança semelhante à que se experimenta quando nos mudamos de uma pensão para um hotel de 4 estrelas. É evidente que esta melhoria se verificou apenas nas acomodações do pessoal, porquanto a actividade operacional se mantinha com a mesma exuberância de sempre.
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Fazenda Stª.Isabel (à esqª.a Secretaria e à dtª., o Fortim, residência do Gerente, Oficiais, alguns Sar- gentos e as Messes. |
Tínhamos até a impressão de que os nossos superiores estavam ansiosos por enterrar definitivamente a guerra Colonial, pois a actividade operacional, tanto do Sector, como do subsector e das Companhias continuavam a rodar em pleno e sem descanso ou quase. Quanto aos efectivos da CArt 784 que nos rendeu no Liberato, esses devem ter levado um choque, ao terem sido afastados das suas comodidades e das atenções do Gerente da Fazenda que olhava e considerava muito os Oficiais, Sargentos e até as Praças, a quem distinguia com muitas atenções, de um modo geral e não apenas ao pessoal maior. Ainda me lembro das visitas do proprietário que vinha de Luanda vistoriar o andamento dos trabalhos na Fazenda , transportado no seu avião “Cessna”, trazendo consigo umas caixas isotérmicas carregadas de boas gambas e lagostas, para, no terraço do Fortim, se fazer uma valente petiscada, com muitas “Nocal” e “Cucas” fresquinhas. Sei que as praças também tinham a sua parte na petiscada, mas à parte, para estarem mais à vontade. Foi ainda durante o período de permanência nesta fazenda que a CArt 785 teve o primeiro golpe de azar, após a Páscoa de 1966, precisamente a 24ABR66, data em que faleceram por acidente de viação, o Fur. Milº.Pereira Pinto e o Sold.CAR Malheiro. Este episódio já aqui foi referido e, por isso, não vou prolongar-me sobre ele. Este “post” já está a fugir aos cânones estabelecidos em extensão e vou ter de encerrá-lo. Aproveito a oportunidade para apresentar cordiais saudações a todos os eventuais leitores, onde quer que se encontrem, esperando não ter sido demasiado exaustivo mas, se assim fui, peço-lhes que me desculpem por isso. No próximo Capítulo tentarei ser menos fastidioso!... Até lá!...
Octávio Botelho